O Estado de S. Paulo
A indústria automobilística brasileira deve levar de cinco a seis anos para recuperar o nível de vendas de 2019. Antes da pandemia da covid, foram vendidos no País 2,7 milhões de veículos, e a previsão para este ano é de cerca de 1,9 milhão, 2% abaixo do ano passado. Já o volume recorde atingido em 2012, de 3,8 milhões de unidades, deve se repetir apenas em 2034, ou seja, mais de 20 anos depois da marca.
A previsão foi feita nesta manhã pelo analista de mercado automotivo da consultoria Globaldata, José Augusto Amorin, na primeira apresentação do Summit “O Futuro da Indústria Automotiva”, realizado pelo Estadão.
Segundo o consultor, o setor já deixou de produzir 65 mil veículos no período de janeiro a abril por causa da falta de semicondutores e, em maio, esse número deve chegar a 85 mil com a parada de produção em mais montadoras, como Volkswagen e Toyota.
A falta de semicondutores, problema que afeta a cadeia global automotiva, é uma das consequências da pandemia. Além disso, as vendas estão sendo afetadas pela alta da inflação que reduz o poder de compra dos consumidores, pelos juros elevados que encarecem o financiamento e pelo aumento dos preços dos automóveis, que superam o índice inflacionário.
Amorin lembrou de todos os percalços enfrentados pela indústria como um todo desde o início na pandemia no País, no fim de março de 2020, passando pelos lockdowns, depois a falta de componentes eletrônicos, falta de navios e contêineres nos portos e agora acrescido da guerra da Rússia na Ucrânia e na explosão inflacionária.
O consultor ressaltou que, apesar de todos esses problemas, o Brasil ainda é um mercado potencial principalmente por causa de sua baixa relação entre número de veículos por habitantes em relação a países mais maduros, onde a relação já é alta. “Isso vai ajudar o mercado brasileiro a crescer”, disse.
Também afirmou que há um maior desejo atualmente dos consumidores em adquirir carros próprios para escapar do transporte público e das aglomerações por causa da pandemia.
Carros mais caros
Apesar de o mercado local ter caído 25% no primeiro trimestre ante igual período de 2021, Amorin ressaltou que nem todos os segmentos tiveram desempenhos tão fracos. O de utilitários-esportivos (SUV), por exemplo, caiu 4%. Sua previsão é de que este segmento venda 700 mil unidades este ano – há dez anos eram 300 mil.
As próprias montadoras estão focando a produção em modelos desse segmento por serem mais caros, o que garante melhor resultado financeiro em seus balanços. Também houve repasse de custos aos preços e hoje o tíquete médio de um veículo está em R$ 144 mil. Em 2019 era de R$ 87 mil. “É bom lembrar também que o mercado mudou e hoje não existem mais os carros de entrada, como Mille (da Fiat) e Gol (da Volkswagen).”
Além dos repasses de custos, os automóveis também passaram a ficar mais caros em razão de novas tecnologias introduzidas, como conectividade, freios ABS, airbag e controle de estabilidade, a maioria deles em razão de novas normas de segurança.
“As marcas que estão se saindo melhor no mercado são aquelas que lançaram novos produtos e que oferecem melhores serviços on-line acrescentou Amorin. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)