O Estado de S. Paulo
Prévia da inflação de abril atinge maior nível desde 1995, em meio a queda nas compras. Em 12 meses, variação é de 12,03%.
Prévia da inflação oficial no País, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) atingiu 1,73% em abril, o maior patamar para o mês desde 1995, segundo os dados divulgados ontem pelo IBGE. Em 12 meses, a variação já chega a 12,03%, o que tem obrigado o consumidor a fazer uma ginástica para encaixar a alta de preços no orçamento doméstico e manter, ao menos, o básico no prato. A saída na maioria dos casos tem sido reduzir a quantidade de produtos no carrinho de compras.
É o caso da aposentada Maria Ester Duarte, de 75 anos, que ontem cedo fazia compras em uma feira na zona oeste da capital paulista. Ela contou que agora só leva para casa o que considera ser essencial, além de ter reduzido a quantidade de itens. “Os preços do tomate, do leite e do pão estão um absurdo”, reclamou. Ela disse que tem feito um “bem bolado” com os feirantes amigos. Na barraca do ovo, por exemplo, leva a mercadoria e paga mensalmente só depois de receber a aposentadoria.
Patrícia Carvalho, de 53 anos, casada e mãe de uma adolescente, é outra consumidora que está levando menor quantidade de alimentos para casa e deixando mais dinheiro a cada vez que vai às compras. Dois meses atrás, desembolsava R$ 50 e comprava tudo o que precisava: frutas, verduras e legumes. “Hoje,
gasto R$ 90, mesmo tendo diminuído os volumes”, disse. Tomate, por exemplo, com alta de 26,17% pela prévia do IPCA, ela não compra mais.
Pelos dados do IBGE, os aumentos nos custos com alimentação e deslocamento responderam por cerca de 70% do IPCA15 de abril. Os gastos com alimentação e bebidas tiveram aumento de 2,25%. Os alimentos para consumo no domicílio encareceram 3%. Além do tomate, os reajustes foram puxados por cenoura (15,02%), leite longa vida (12,21%), óleo de soja (11,47%), batata-inglesa (9,86%) e pão francês (4,36%). A alimentação fora do domicílio teve um aumento de 0,28% em abril.
Gasolina
Já transporte teve alta de 3,43%, resultado impulsionado pelo encarecimento de 7,54% dos combustíveis no varejo devido ao mega reajuste praticado pela Petrobras em 11 de março nas refinarias (a petroleira elevou o preço médio da gasolina às distribuidoras em 18,77%, enquanto o óleo diesel aumentou 24,93%). Pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indica que o preço da gasolina bateu novo recorde no País, vendida na semana de 17 a 23 março a R$ 7,270 por litro em média. Mas, em alguns postos da cidade de São Paulo, o produto já chega a ser vendido por R$ 8,599 por litro.
Dono de uma banca de frango e carne, o feirante Wanderlei Brazão tem três caminhões refrigerados para transportar as mercadorias da zona leste para a zona sul de São Paulo. Até pouco tempo atrás, gastava R$ 400 de diesel por semana para abastecer cada caminhão. Hoje, desembolsa R$ 600.
Brazão diz não ter repassado o custo extra para o preço das mercadorias que vende para não espantar o cliente. “Estou brigando por descontos nas compras com fornecedores, pois compro grandes volumes.” Mesmo obtendo descontos, ele não consegue compensar totalmente a alta de gastos com o combustível.
Já os taxistas que dependem do combustível para trabalhar têm usado outra estratégia para economizar. Eles evitam rodar pelas ruas em busca de clientes e esperam no ponto a freguesia. “Tenho ficado mais parado no ponto, caso contrário a gente não aguenta”, disse Jairo Antunes, que normalmente fica nas redondezas da movimentada estação do Metrô Butantã. O taxista usa gás natural (GNV) e hoje paga R$ 5,30 pelo metro cúbico. Até pouco tempo atrás, desembolsava R$ 4,30.
“Fico mais parado no ponto e trabalho mais por telefone”, completou Ilson Geraldino, que usa etanol e gasolina.
“Os preços de itens importantes que a gente usa no dia a dia, como tomate, leite, pão, estão um absurdo”, Maria Ester Duarte Aposentada. (O Estado de S. Paulo/Márcia de Chiara, Daniela Amorim e Denise Luna)