VW Gol e Voyage podem ter aposentadoria antecipada por falta de peças

Jornal do Carro

 

A situação da Volkswagen está complicada nos últimos meses. A marca alemã tem enfrentado dificuldades para produzir seus principais carros de volume no País. A fábrica da VW em São Bernardo do Campo (SP), sede da montadora, está com máquinas desligadas mais uma vez – por escassez de componentes, sobretudo semicondutores. O problema, que começou na última segunda-feira (18) se estenderá até segunda-feira (25), na volta do feriadão. E o reflexo disso é cada vez maior nas vendas.

 

Tal como reportamos no início deste mês aqui no Jornal do Carro, a VW despencou no ranking das marcas, e foi a 5ª colocada no primeiro trimestre de 2022, atrás de Hyundai e Toyota. Em números divulgados pela Fenabrave, associação que representa os concessionários do País, a marca emplacou pouco mais de 37 mil unidades no período.

 

Como estratégia, a alemã passou a priorizar seus modelos de maior conteúdo tecnológico, principalmente o T-Cross, que é o líder dos SUVs no ano. E dentro desse cenário, mostra-se cada vez mais iminente a aposentadoria dos medalhões Gol e Voyage.

 

Com 32 anos de mercado, o hatch popular tem vendido muito pouco e já não demonstra fôlego para continuar. Já o sedã Voyage, tal como publicou a revista Autoesporte, nem deve voltar as linhas de produção quando a fábrica de Taubaté (SP) voltar a operar.

 

O que diz a Volkswagen?

 

Procurada pelo Jornal do Carro, a Volkswagen afirmou, em nota, que “a informação não procede e a produção do Voyage continua normalmente”. De acordo com a marca, “A fábrica de Taubaté está em shutdown esta semana (desde segunda-feira, 18) em razão de preparação da linha para receber a plataforma MQB. Entretanto, voltará a produzir normalmente Gol e Voyage na segunda-feira (25)”.

 

Entretanto, mesmo que a Volkswagen não confirme, indícios levam a crer que o Voyage está próximo do fim. Tido como bom negócio nos tempos áureos, principalmente para taxistas e motoristas de aplicativos, o sedã vem enfrentando baixas nos emplacamentos até mesmo nas vendas diretas. O relatório da Fenabrave aponta que o modelo registrou apenas 429 unidades voltadas à pessoas jurídicas (empresas) entre janeiro e março.

 

Isso é menos da metade do Virtus, por exemplo, que, aliás, não demora a mudar por aqui. Afinal, a linha 2023 já entrou em produção na Índia (leia aqui). O mesmo acontecerá com o Polo, que chega renovado no segundo semestre. Já o Polo Track deve sair da planta de Taubaté só em 2023. Nesse sentido, dá para considerar que o Voyage fique em linha por mais alguns meses. Mas não deve durar até dezembro.

 

Deméritos frente à concorrência

 

Com preço na casa dos R$ 95.000 quando completo (com todos os opcionais disponíveis), o Voyage já não é páreo para a concorrência, composta por modelos como Chevrolet Onix Plus, Hyundai HB20S e companhia. A começar pelos equipamentos (ou ausência de), o sedã da VW deixa a desejar.

 

O Voyage, em síntese, parece ter parado no tempo. Enquanto o HB20S – com motor 1.0 turbo e preço de R$ 93.972 – tem até Bluelink (que até controla o carro por aplicativo), o Voyage sequer vem com direção elétrica ou conectividade Apple CarPlay e Android Auto.

 

Em relação a consumo, de acordo com a classificação do Inmetro, o modelo (motor 1.0 de três cilindros e até 84 cv) tem nota A (comparação relativa na categoria). Ainda assim, o Chevrolet Onix Plus, também nota A, gasta menos combustível. Em números, a média é de, respectivamente, 15,1 km/l e 17,7 km/l (gasolina, na estrada). Vale recordar que, de maneira sutil, a fabricante retirou de cena os modelos 1.6, que já não atendiam as leis de emissões impostas pela sétima fase do Proconve – em vigor desde janeiro.

 

Sem espaço para populares

 

Na semana retrasada, a Volkswagen confirmou que reduzirá modelos a combustão para focar em veículos premium. Nisso, cerca de 100 modelos do Grupo Volkswagen em todo o mundo deixarão de existir até 2030. Em paralelo, a marca afirmou que o objetivo não é mais volume. Ou seja, com tantas mudanças impostas pela pandemia da Covid-19 e pela escassez global de chips, a fabricante resolveu mudar a metodologia para encontrar novos rumos.

 

Baseada na estratégia de marcas como Audi e Porsche (pertencentes ao Grupo Volkswagen), a VW vai focar nas vendas de veículos mais caros. Nesse sentido, produção menor e lucro alto. Sem contar que as novas regras de emissões de gases têm obrigado as montadoras a seguir esse caminho. Afinal, qualquer tipo de eletrificação encarece a produção, o que, consequentemente, sobe o preço do carro.

 

Gol muda, Voyage dá adeus

 

Outra demanda do mercado é a SUVização. E, por aqui, não vai ser diferente. Tanto que a Volkswagen deve oferecer no mercado a reformulação do Gol. O modelo, que já não é popular há tempos, vai deixar de lado o formato tradicional (hatch) e se tornar um mini-SUV. Informações apontam que pode ter forte influência do Skoda Kushaq, feito na Índia sobre a plataforma MQB-A0. Tem chegada prevista para 2024 e deve ficar abaixo do T-Cross.

 

Usando a mesma base de Nivus, Polo, T-Cross e Virtus, o modelo – também feito em Taubaté (SP) – deverá reunir elementos do Golf de 8ª geração, bem como da família elétrica ID. Deve ter cerca de 4,10 metros de comprimento e o mesmo tamanho de entre-eixos de Polo (2,56 m). Do lado de dentro, a aposta é a central multimídia VW Play.

 

Para movê-lo, a Volkswagen deve abandonar o 1.0 aspirado de até 84 cv do hatch atual e incluir o 1.0 três cilindros 12V turbo flex, de 105 cv ou 128 cv. Há aposta de câmbio manual de cinco marchas ou automático, de seis posições.

 

Cabe lembrar que, ao contrário do Gol, o Voyage não deixará herdeiro. (Jornal do Carro/Vagner Aquino)