O Estado de S. Paulo
Citado pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, como um potencial atenuante no complicado cenário de inflação, o fortalecimento do real não é visto como “bala de prata” pelos economistas do mercado financeiro.
As projeções para o dólar têm até caído, mas as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuam na direção oposta. Contas realizadas por algumas instituições mostram que nem mesmo replicar o patamar atual de R$ 4,70 colocaria a inflação próxima da meta, inclusive em 2023, que é o foco principal da política monetária. Outros explicam que ainda é cedo para confiar que a moeda americana continuará nesse nível, sobretudo diante das incertezas eleitorais e da alta de juros nos Estados Unidos.
Há uma semana, após reconhecer a surpresa com o IPCA de março (1,62%) e indicar que o BC iria reavaliar a tendência, abrindo mais a porta para a continuidade da alta da taxa Selic além de 12,75%, Campos Neto citou a apreciação cambial como uma espécie de atenuante para a inflação à frente. O dólar passou de R$ 5,57, no fim de 2021, para R$ 4,64 no fechamento de ontem. “Parte da melhora do câmbio não está refletida nos índices de inflação. Vemos algumas projeções que levam pouco em consideração a apreciação do câmbio”, disse ele, em evento do Traders Club e da Arko Advice.
No mesmo dia, o Santander Brasil reduziu a projeção para o câmbio no fim do ano, de R$ 5,40 para R$ 5,00, e no fim de 2023, de R$ 5,25 para R$ 4,80, mas elevou a projeção para o IPCA de 6,0% para 7,9%, em 2022, e de 3,7% para 4,0% em 2023. A meta para este ano é de 3,50%, com margem de 2,0% a 5,00%, ou seja, deve ser o segundo ano de descumprimento do BC de seu objetivo principal. Para 2023, o alvo central é de 3,25% (banda de 1,75% a 4,75%). (O Estado de S. Paulo/Thaís Barcellos)