O Estado de S. Paulo
A Toyota do Brasil anunciou na tarde de ontem que vai fechar sua fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e transferir as operações para as unidades de Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz, no interior de São Paulo.
A planta mais antiga do grupo – e a primeira da montadora fora do Japão – foi inaugurada em 1962 para a produção do icônico jipe Bandeirante, modelo que ficou em linha por quase 40 anos. Hoje produz componentes para veículos das outras unidades brasileiras e para exportação à Argentina e aos Estados Unidos.
Dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC dizem que foram pegos de surpresa com uma carta enviada pela Toyota. Foram então para os portões da fábrica conversar com os 550 trabalhadores. Hoje ocorre assembleia para definir ações na tentativa de reverter a decisão.
O prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, também foi informado da mudança ontem e lamentou o fato. Ele afirma que vai procurar o presidente da montadora no Brasil, Rafael Chang, para tentar convencer o grupo a permanecer na cidade. No fim de 2019, o município perdeu a fábrica da Ford e no local está sendo construído um centro de logística.
A Toyota informa que a mudança será feita de forma gradual a partir de dezembro, com conclusão prevista para novembro de 2023. Os funcionários que quiserem poderão ser transferidos para as outras unidades do grupo. A área será vendida ao final do processo.
Segundo a companhia, a transferência visa a maior sinergia entre suas unidades produtivas e faz parte de um plano de busca por mais competitividade frente aos desafios do mercado brasileiro e da sustentabilidade dos negócios no País, além de responder às rápidas mudanças do ambiente externo.
A montadora afirma que testou diversas possibilidades, no entanto a mais viável foi o fechamento. “A transferência é necessária para aumentar nossa competitividade. Concentrando a produção em três plantas otimizaremos a infraestrutura, mantendo níveis de produção e de mão de obra”, assinala.
Centro de pesquisa
Após a inauguração das outras fábricas da marca em Indaiatuba (1998), Sorocaba (2012) e a de motores em Porto Feliz (2016), houve especulações sobre o destino da unidade de São Bernardo, mas o grupo sempre afirmava que ela seria mantida.
Há cinco anos, a Toyota instalou no local seu primeiro Centro de Pesquisa Aplicada na América Latina. Só havia estruturas desse tipo no Japão, EUA, Europa e Tailândia.
O objetivo era realizar, sem depender da matriz, modificações nos carros fabricados no País, criar edições especiais, avaliar novos materiais e, no futuro, talvez até desenvolver carros para a região, conforme diziam executivos na época.
Pouco antes, a empresa havia transferido sua sede administrativa de São Paulo para o ABC, de onde foi de novo transferida para Sorocaba, em 2020. Nos últimos anos foram investidos R$ 2 bilhões nas outras fábricas, além de mais R$ 50 milhões anunciados na semana passada para a renovação do Corolla, produzido em Indaiatuba.
Dirigentes do sindicato afirmam que a decisão é injustificável porque, nas últimas negociações, a Toyota afirmava ter projetos para a planta. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)