O Estado de S. Paulo
A constatação de que faltará energia na Europa, principalmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia, faz o Brasil encontrar um filão de negócios e de sustentabilidade. Em conversas bilaterais às margens do encontro ministerial de Meio Ambiente da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, percebeu o interesse de europeus pela compra de hidrogênio verde, o “combustível do futuro”.
“Vamos ter um pré-sal de energia offshore, só que de energias renováveis”, disse em entrevista ao Estadão/Broadcast, de Paris. Assim que o Brasil regulamentar a política de produção eólica offshore (parques eólicos no mar), de acordo com Leite, os investidores internacionais poderão direcionar recursos que se transformem em abastecimento para seus países e se tornem um empreendimento de retorno garantido. “A Dinamarca se mostrou muito interessada. Muito provavelmente vai investir no Brasil”, disse o ministro, que também teve reuniões com a Suíça e com um vizinho sulamericano, a Colômbia.
A Alemanha já fez vários estudos sobre a importância da produção de hidrogênio verde, mas ainda não tirou os projetos do papel. O Japão, na Ásia, foi outro interessado no hidrogênio brasileiro, conforme o ministro. “Para podermos comercializar, é preciso ter excedente de energia renovável, e no momento há é falta”, ressalvou.
Todas as condições estão dadas para o Brasil se destacar nessa área, conforme Leite, e um dos principais atrativos naturais do País seriam os cerca de 10 mil quilômetros de costa.
Com a regulamentação da energia eólica, a expectativa do ministro é de que 10% da produção seja consumida no País e o restante possa ser comercializado com o exterior. Ele lembrou que a Política Estratégica Nacional vai ampliando todos os anos a participação de energia limpa e que a solar, por exemplo, está prestes a bater o volume de produção de Itaipu.
“Precisamos fazer acordos com quem queira comprar, pois é uma energia para exportação. O interessado pode fazer investimentos para consumo próprio”, considerou, acrescentando que “nos próximos anos”, essa mudança já poderá ser uma realidade. “O Brasil entra nesse momento como um grande fornecedor de energia renovável”, acrescentou.
A obtenção do hidrogênio como combustível é por meio de um processo térmico. “Temos de ter água para fazer a hidrólise”, explicou Leite sobre o processo, em que o vapor reage com o hidrocarboneto, produzindo o hidrogênio. O ministro vem enfatizando a alternativa eólica porque se pode obter hidrogênio por meio de outros combustíveis, como o diesel e o gás natural, porém estes não podem ser classificados como hidrogênio verde. (O Estado de S. Paulo/Célia Froufe)