O trânsito voltou – e com ele, os reajustes do seguro de automóveis

O Estado de S. Paulo

 

A inflação dos preços de carros novos e usados deixará sua inércia em mais um produto: os seguros. As seguradoras que atuam no ramo começaram a repassar aos preços das apólices, novas ou em renovação, os maiores custos com os sinistros, parciais ou integrais, causados pela inflação de automóveis e autopeças e também pela volta dos carros às ruas, diante do fim das restrições contra a propagação da covid-19.

 

A percepção do mercado é de que o reajuste deve ser a regra, porque a seguradora que represar preços corre o risco ter a operação pressionada pelo aumento dos custos com indenizações. “O reajuste vai ser mandatório para as companhias de seguro, porque os sinistros, quando ocorrerem, vão ser mais caros”, diz Henrique Tomaz, analista do setor no BB Investimentos.

 

Na líder de mercado, o repasse ocorre desde o terceiro trimestre do ano passado. A Porto Seguro está reajustando preços desde setembro, e até agora, a base de clientes tem absorvido o custo. “Tem uma pequena retração nas conversões, mas tem sido positivo porque como esse efeito pegou todo o mercado, todo mundo está fazendo esse movimento”, disse ao Broadcast Roberto Santos, presidente da companhia.

 

A empresa não detalhou o valor dos reajustes. No ano passado, os prêmios emitidos no seguro auto da Porto subiram 11,6%, acima da inflação, para R$ 10,8 bilhões. Mas parte da alta foi puxada pelo aumento da base segurada em 311 mil veículos. A frota segurada pela empresa foi a 5,8 milhões de veículos.

 

“Não há uma guerra de preços, porque a sinistralidade muito alta está afetando a todos. Acho difícil que algum concorrente deixe a sinistralidade alta para ganhar mercado”, diz Alexandre Masuda, sócio da SFA Investimentos, gestora que acompanha de perto o setor.

 

O aumento de preços é a esperança das empresas para ajudar a equilibrar esse custo. De acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a sinistralidade dos seguros de automóveis chegou em novembro (dado mais recente) ao patamar mais alto de 2021, de 81%. Na Porto Seguro, subiram de 55,9% em setembro para 61,6% em dezembro.

 

Dois fatores explicam o salto. O primeiro é a inflação: as indenizações de seguros de automóveis seguem os preços da tabela Fipe, que dispararam no ano passado com a crise de produção das montadoras. Aliado a isso, os carros voltaram às ruas no segundo semestre – e correm mais riscos de colidir ou serem roubados do que parados na garagem.

 

Ceticismo

 

A ação da Porto Seguro subia 3% na tarde de ontem, após a divulgação do balanço, mas a leitura de que o desafio do mercado auto está equacionado não foi unânime. O Bank of America, por exemplo, considerou que a expansão da frota segurada foi fraca, e que o ambiente de preços é desafiador.

 

“Em nossa visão, menores restrições relacionadas à covid, um forte aumento nos custos de manutenção e o crescimento fraco das vendas de novos veículos devem continuar pressionando os resultados do ramo auto”, afirmaram Mario Pierry, Flávio Yoshida, Antonio Ruette e Ernesto Gabilondo, analistas do banco.

 

A empresa já vinha sendo cobrada pelo mercado a diversificar suas fontes de receita para escapar do crescimento mais lento do ramo. As apostas estão em vários setores, mas a seguradora deu destaque ao de saúde, em que ainda tem presença tímida. “Certamente em 2022, a gente quer estar bem mais relevante no Estado de São Paulo e no Rio de Janeiro, nas principais cidades”, disse o CEO da vertical de saúde da Porto, Sami Foguel.

 

Curiosamente, é um setor que está na contramão do auto: pressionado durante a pandemia, tem assistido a um alívio nas indenizações nos últimos meses. (O Estado de S. Paulo/Matheus Piovesana)