New Holland avalia produção nacional de trator movido a gás biometano

O Estado de S. Paulo

 

A New Holland inicia neste mês as vendas no Brasil de tratores movidos a gás biometano, combustível gerado pela decomposição de material orgânico, como dejetos de animais e bagaço de cana. A tecnologia é inédita e foi desenvolvida pelo grupo em parceria com engenheiros brasileiros.

 

Inicialmente as máquinas agrícolas serão importadas, mas há planos de produção local, dependendo da demanda e da viabilidade econômica, informa Eduardo Kerbauy, diretor de Mercado Brasil da New Holland. A marca faz parte do grupo ítalo-americano CNH Industrial e tem três fábricas no Brasil (uma no Paraná e duas em São Paulo), com 4,4 mil funcionários.

 

Chamado de T6 Methane Power, o trator começou a ser testado no País em 2017 por agricultores e pecuaristas e chega ao mercado local dois meses após o início das vendas na Europa e nos EUA. A produção, por enquanto, ocorre só na fábrica da empresa na Inglaterra.

 

“Neste primeiro ano temos uma cota limitada de dez unidades do T6 para o mercado brasileiro”, diz Kerbauy. O equipamento pode ser usado em todas as operações do agronegócio e custa cerca de 35% mais que uma versão a diesel, na casa dos R$ 500 mil a R$ 600 mil.

 

O trator é viável especialmente para produtores que já têm biodigestor, equipamento que transforma dejetos em gás biometano. Usinas de cana de açúcar e pecuaristas estão entre os maiores fabricantes no País de biometano, usado, por exemplo, na geração de energia.

 

Segundo Kerbauy, o trator a biogás é uma solução que permite ao produtor rural utilizar o combustível gerado dentro de sua propriedade, aproveitando o “ciclo virtuoso da fazenda, que se torna cada vez mais autossuficiente do ponto de vista energético e ambientalmente correto”.

 

Elétrico

 

O executivo ressalta que a empresa também trabalha em outras tecnologias “limpas”, como tratores elétricos. No ano passado, a CNH adquiriu parte da Monarch Tractor, empresa americana de tecnologia que atua na área de eletrificação e autonomia no setor agrícola.

 

O pulo do gato da tecnologia do biogás, afirma Kerbauy, é que o próprio produtor tem a matéria-prima para seu combustível, e o uso dos dejetos resolve também seu problema de passivo ambiental.

 

O biometano também é usado para produzir energia, mas precisa de um gerador, enquanto o gás pode ser utilizado diretamente como combustível. “O veículo elétrico sempre vai depender de uma fonte de eletricidade, enquanto o gás traz mais independência”, diz.

 

Biogás x diesel: entenda a diferença

 

Origem: O biometano é feito de dejetos de animais (suínos e galinhas, por exemplo) e de plantas, como o bagaço da cana.

 

Vantagem: A propulsão por biometano reduz em até 80% as emissões de poluentes em comparação a um motor movido a diesel, afirma a companhia.

 

Economia: O custo com combustível é em média 25% a 40% inferior ao do diesel. Para o produtor que usa o veículo mil horas por ano, o investimento em aquisição e uso do T6 se paga em dois anos, diz a fabricante.

 

Autonomia: O T6 é equipado com 10 cilindros para gás que permitem seu uso por 8 a 10 horas ao dia, mesmo período dos modelos a diesel. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)