“Até 2025, todo Toyota vai ter opção eletrificada”

O Estado de S. Paulo  

 

“Mesmo em meio às dificuldades, iniciamos o terceiro turno na fábrica de Sorocaba. Acreditamos que a demanda vai crescer.”

 

“O etanol é um dos combustíveis mais limpos do mundo. Decidimos começar (a eletrificação no Brasil) pelos híbridos flex.”

 

Formado em Engenharia Industrial, Rafael Chang ingressou na Toyota do Peru, seu país natal, em 1993. Trabalhou em marketing e vendas até 2011 e foi para o Japão atuar na mesma área. Regressou à América Latina para assumir o posto de presidente da empresa na Venezuela. Desde janeiro de 2017, é o presidente da Toyota do Brasil. Ele participou de momentos importantes, como o lançamento do Corolla híbrido flexível, primeiro carro do tipo no mundo. Bem como da Kinto, divisão focada em serviços de mobilidade. Em 2021, lançou o Corolla Cross, primeiro SUV médio da fabricante feito na região e exportado para mais de 20 países. Por chamada de vídeo, Chang falou ao Estadão sobre esses e outros assuntos.

 

Como o sr. avalia o desempenho da Toyota em 2021?

Nossa prioridade foi preservar e cuidar da saúde de todos os funcionários. Houve desafios na cadeia de logística, com gargalos e dificuldade até para conseguir contêineres em navios e espaços em aviões. Isso prejudicou o fornecimento de matérias-primas e trouxe aumento de custos. Mesmo com esses desafios, muitos setores da economia avançaram. Seja como for, posso dizer que a recuperação foi muito mais rápida do que nós esperávamos.

 

Quais são as metas para 2022 e como alcançá-las?

Em 2021, conseguimos manter o nível de produção e atingimos as metas de vendas. Lançamos o (SUV) Corolla Cross, que é feito no Brasil e exportado para 22 países. Também abrimos a Kinto, que oferece diversos produtos do conceito de mobilidade. Para 2022, vamos continuar nessa linha. Planejamos de olho no potencial do Brasil. Sabemos que existem dificuldades de curto prazo. A pandemia continua, assim como os problemas no fornecimento de peças. Há assuntos macroeconômicos globais, como a inflação. Porém, sempre olhamos para o médio e longo prazos. Uma das prioridades para 2022 vai ser a continuidade do fortalecimento dos nossos serviços aos clientes, sobretudo no processo de digitalização que acelerou muito durante a pandemia. Estamos adaptando toda nossa rede de concessionários para oferecer essas soluções. Nos serviços de mobilidade, a Kinto abriu recentemente um serviço para pessoas físicas. E, mesmo em meio às dificuldades, iniciamos o terceiro turno na fábrica de Sorocaba (SP). Ou seja, para atender a demanda que acreditamos que vai crescer. Em 2021, também iniciamos as atividades da Gazoo Racing, nossa marca de veículos esportivos. Vamos continuar fortalecendo esses produtos e essa marca para ficarmos mais perto dos clientes que são apaixonados por carros. Também estamos trabalhando muito a questão da redução das emissões de carbono. O Corolla Cross híbrido flexível faz parte desse processo da busca pela neutralidade de emissões.

 

Toyota informou que antes de 2050 não deve ter 100% da gama eletrificada. Como será a evolução da eletrificação dos produtos?

Temos o compromisso de zerar nossas emissões até 2050. Esse plano inclui várias áreas e uma delas é o portfólio de produtos. Até 2025, todo Toyota vai ter ao menos uma opção eletrificada. Agora, se vai ser híbrida (convencional), híbrida flex, híbrida plug-in, elétrica ou a hidrogênio, vai depender das características de cada país e região. Para nós, o importante não é a tecnologia em si, mas o propósito final, que é zerar as emissões. Então, isso vai depender da matriz energética, da infraestrutura, do grau de desenvolvimento e da estrutura. O etanol, por exemplo, é um dos combustíveis mais limpos do mundo. Considerando o investimento para desenvolver a infraestrutura de recarga elétrica, decidimos começar pelos carros híbridos flex. Daqui para frente, usaremos essas variáveis para decidir qual será a próxima tecnologia que traremos ao Brasil. Mas não é uma questão apenas do portfólio de produtos. Tem a ver com o tipo de energia utilizada para mover os carros. E também envolve os fornecedores. O plano inclui zerar as emissões das nossas fábricas em 2030. Então, entendendo o propósito de zerar as emissões e os componentes do ciclo de vida dos produtos, definimos a estratégia para 2050.

 

Essa opção eletrificada de cada produto é em nível global ou em cada mercado?

Primeiro, será global. Depois, em cada mercado. Creio que a próxima pergunta que você vai me fazer é se isso será feito também no Brasil. A resposta é sim. Quando isso vai acontecer e qual será a tecnologia eu ainda não posso contar.

 

Como o sr. avalia novos serviços, como a locação de curto prazo?

Se você quer saber como vai ser a composição do nosso negócio daqui a, digamos, 10 anos, qual porcentagem terá a venda tradicional e quanto será de aluguel eu não tenho a resposta. O que posso dizer é que há tendências avançando rapidamente. O conceito de mobilidade é amplo e vai muito além dos carros.

 

Temos de criar soluções de mobilidade para todos. Sejam PcDs (pessoas com deficiência) ou não, idosos ou que tenham dificuldade de locomoção. Isso inclui carros, transporte público e infraestrutura das cidades para conectar os serviços. Sem esquecer a questão das emissões de carbono. Também temos de pensar em formas mais eficientes de utilização de energia. Em termos mais concretos, em 2021 lançamos o Kinto Share, um sistema de aluguel de veículos para pessoas físicas que pode ser por um dia ou uma semana. Depois, o Kinto One Fleet, voltado à gestão de frota. Já o Kinto One Personal é uma assinatura de longo prazo para pessoas físicas. Os três estão crescendo.

 

A marca agora foca carros de maior valor agregado?

Essa é uma tendência não só na Toyota, mas nas montadoras em geral. Há cada vez mais regulações, que exigem produtos mais tecnológicos. E como fazer par a equilibrar as contas? Fizemos ajustes em nosso portfólio para oferecer veículos de maior valor agregado. Mesmo porque o conceito de veículo sem opcionais, “pelado”, ficou na história. Também estamos vendo novas oportunidades, como oferecer acessórios e gerar negócios com usados. Tudo isso, que chamamos de cadeia de valor, faz parte dos pilares da nossa estratégia no Brasil. (O Estado de S. Paulo/Tião Oliveira)