Brasil vira problema para a Mercedes-Benz: montadora mira em exportação para manter relevância da operação brasileira

Isto É Dinheiro

 

Mercedes-Benz viveu um misto de realidades no Brasil em 2021. Enquanto o segmento de ônibus manteve a liderança do mercado, com quase 50% de participação, o de caminhões amargou a perda da primeira posição, ocupada desde 2016. Notícia nada agradável para o alemão Achim Puchert, que no último dia 1º assumiu a presidência da divisão Caminhões e Ônibus no País. Na semana passada, acompanhado pela sueca Karin Rådström, chefe mundial da Mercedes-Benz Trucks, Puchert visitou as plantas da montadora em São Bernardo do Campo (SP) e em Juiz de Fora (MG), além de fornecedores e concessionários.

 

Após os eventos, uma boa notícia para o País: “A expansão da exportação é uma forma de manter a produção forte no Brasil e equilibrar a desvalorização da moeda”, afirmou Puchert. Ele foi endossado pela chefe. Mesmo ao admitir desafios pela frente, Karin reforçou a estratégia. “Exportar mais, além de nos garantir um melhor balanço cambial, vai gerar volume para as nossas operações.” E o plano encontra amparo nos números.

 

As exportações de caminhões a partir do Brasil atingiram 8.026 unidades em 2021, aumento de 77% na comparação com o ano anterior, e de 127% em relação a 2019. Já o segmento de ônibus enviou ao mercado externo 3.129 unidades no ano passado, contra 2.761 em 2020 (alta de 13%), mas queda de 20% ante a 2019. Entre os principais países atendidos pela empresa estão Chile, Colômbia, Equador, Peru, África do Sul, Egito e Emirados Árabes.

 

No ambiente interno a disputa pela ponta entre os caminhões só foi definida no último mês de 2021. A Volkswagen vendeu 3.469 veículos em dezembro, 452 a mais que a Mercedes. No acumulado do ano, a Volks atingiu 37.460, crescimento de 46,4% em relação ao ano anterior, com 29,4% do mercado. Já a Mercedes emplacou 37.158 caminhões, com market share de 29,2%. As vendas totais chegaram a 127.357, alta de 42,8% sobre as 89.173 comercializadas em 2020, puxadas principalmente pelos setores de agronegócio e mineração. Os dados são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

 

“Exportar mais, além de nos garantir um melhor balanço cambial, vai gerar volume para as nossas operações” Karin Rådström chefe mundial da Mercedes-Benz Trucks.

 

A perda da liderança foi minimizada por Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas da marca no País, que creditou a situação à crise dos semicondutores, um limitador para a produção. O problema, inclusive, é comum a praticamente todas as montadoras pelo mundo e, ao menos em 2022, não deve ser solucionado. Mesmo assim, a Mercedes aposta que o mercado nacional deve fabricar 140 mil unidades, marca 10% superior a do ano passado.

 

A montadora, no entanto, não dormiu no ponto no mercado de ônibus. Vendeu 8.878 unidades em 2021, com 49,9% de participação. A Volks nem chegou à catraca. Comercializou 3.697, com 20,8%. A expectativa dos executivos é que o segmento cresça à medida que a vacinação avance pelo País. Diante dos riscos de contaminação e das medidas de isolamento social, o transporte coletivo apresentou queda de usuários desde o início da pandemia, em 2020.

 

Mão no bolso

 

Mas nem tudo são flores. Não estão nos planos iniciais de Puchert investimentos a curto prazo no País. Além da crise dos semicondutores e dos possíveis desdobramentos da pandemia, o aumento do preço do diesel e a economia em recessão técnica causam preocupação. Isso sem contar que 2022 é ano de eleição, período normalmente marcado por muita volatilidade.

 

A intenção é se concentrar em concluir, nesta temporada, o plano de investimentos de R$ 2,4 bilhões iniciado em 2018. Após isso, só a conjutura dirá. “Não quer dizer que não faremos novos aportes. Só que ainda é cedo para qualquer decisão a respeito.” Aqui entram os planos para os elétricos. Apesar do objetivo da marca de ter 100% da frota eletrificada até 2030, no Brasil não há previsão de lançamentos de caminhões do modelo. A montadora pretende avaliar qual será o investimento necessário para desenvolver o produto, além de saber se o País terá estrutura para recebê-lo.

 

Na categoria ônibus a bandeira anunciou em agosto de 2021 o desenvolvimento e produção no País do primeiro chassi para coletivo eletrificado. Batizado de eO500U, o veículo deve ser lançado este ano fruto de R$ 100 milhões em investimentos. (Isto É Dinheiro)