“Vêm aí mais de 30 novos BMW, MINI e Motorrad”

O Estado de S. Paulo  

 

“Sempre falo do mundo Vuca (acrônimo em inglês para volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade). E o Brasil é um Vuca com esteroide.” “A BMW tem uma estratégia clara de eletrificação, que visa ao aumento das vendas desse tipo de modelo.”

 

Com apenas 45 anos, Aksel Krieger faz parte da nova safra de líderes que comandam grandes empresas no mundo todo. O brasileiro com nome e nacionalidade dinamarquesa construiu uma carreira de sucesso no Grupo BMW. Trabalhou na Alemanha e na África do Sul e, antes de voltar ao País para ocupar o posto de CEO e presidente, no fim de 2108, estava na China. Sempre bem-humorado, ele conversou cerca de uma hora com o Estadão por meio de chamada de vídeo. Afirmou várias vezes que a BMW acredita no Brasil e agradeceu repetidamente aos clientes, colaboradores e concessionários pelo sucesso da companhia no País.

 

Como foi o ano de 2021 para a BMW no Brasil?

Estamos enfrentando a maior crise sanitária do século, mas a BMW saiu de 2021 mais forte do que entrou. A gente avançou na digitalização e implantou em três, quatro meses, um projeto que normalmente seria feito em cinco anos. Esse foi o avanço número um. O número dois é que aprendemos a trabalhar melhor com a volatilidade. Eu sempre falo do mundo Vuca (acrônimo em inglês para os termos volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade). E o Brasil é um Vuca com esteroide. Tudo acontece ao mesmo tempo no País. Ou seja, teve covid, câmbio disparando, inflação, crise de semicondutores… No Brasil, a gente nunca fica entediado. E, durante as crises, a volatilidade é maior. Isso aconteceu bastante em 2021. Porém, estou muito contente com os resultados da empresa. Temos duas plantas no Brasil, sendo uma em Araquari (SC) e outra em Manaus. Bem como o escritório em São Paulo, com serviços financeiros e área de vendas. O fato é que o time saiu mais bem preparado para enfrentar qualquer tipo de desafio. E, quando eu falo de time, incluo nossos fornecedores, fábricas e também a rede de concessionárias, que fez um trabalho fantástico. Crescemos mais de 15% com as três marcas na comparação com 2020. A BMW cresceu quase 17%. Já a MINI cresceu 9% e a Motorrad, 14%. Esse bom resultado é consequência de um trabalho muito bem feito. Só tenho a agradecer aos nossos clientes, colaboradores e concessionários.

 

O que o sr. fez para convencer a BMW a fazer mais investimentos no Brasil e quais novidades virão?

O investimento de R$ 500 milhões anunciado em 2021 é para produzirmos o X3 e o X4 (SUVS). Tem uma cereja do bolo, mas não posso dar spoiler. A BMW nunca faz investimentos de olho no curto prazo. Quando a gente abriu a fábrica em Araquari, há quase seis anos, sabia que o resultado não viria rapidamente. A BMW acredita muito no Brasil. Em 2022, vamos crescer acima dos dois dígitos. Vêm aí mais de 30 lançamentos da BMW, MINI e Motorrad no Brasil. O brasileiro ama a BMW e a BMW ama o Brasil. Então, é um “match” perfeito. No Brasil há muitos desafios. Porém, o mercado de carros premium tem muito a crescer em relação ao resto do mundo. Também acreditamos muito na eletrificação no País. Em 2021, houve crescimento robusto na venda de híbridos plug-in e elétricos puros. A BMW tem uma estratégia clara, que visa ao aumento das vendas desse tipo de modelo. E o mercado brasileiro aceita muito bem a nova tecnologia. Estamos há 25 anos no País e aprendemos a navegar aqui.

 

O sr. mudaria alguma decisão que tomou em 2021?

Daria para ter acelerado o processo de digitalização. E poderíamos ter lançado antes o programa de entrega do carro na casa do cliente. Daria para fazer mais coisas em 2019 e 2020 também. Em 2021, lançamos a M3 dentro do Tiktok e fizemos uma parceria com a Farfetch (site de moda) para lançar a X7 (Dark Shadow Edition). São coisas que a gente poderia ter iniciado antes mesmo da crise. Seja como for, vamos ter novidades no futuro.

 

Aliás, quais são os planos da BMW para 2022?

Continuaremos crescendo. No fim de 2021, anunciamos a vinda do ix e do i4 (elétricos) ao País. Tudo que há lá fora de eletrificação a gente pretende trazer. Outra coisa que continuaremos fazendo intensamente é ficar muito próximos de nossos clientes, bem como dos concessionários.

 

Quando os carros eletrificados vão vender mais que os a combustão?

Em 2021, os eletrificados representaram um terço de nossas vendas, incluindo híbridos e elétricos puros. Mas a questão da infraestrutura é muito importante. Na fábrica em Araquari, temos carregamento feito por energia solar e baterias usadas, que eram de trens. Nossa estratégia de futuro está baseada também em reúso e reciclagem. No Brasil, dá para ter energia solar e ficar completamente off grid (autossuficiente na geração). Fomos pioneiros ao criar um corredor com postos de recarga (entre São Paulo e Rio de Janeiro, em 2018). Acabamos de lançar a Série 3 Flex e a X1 Flex, que é uma tecnologia que funciona muito bem. Dizer que no futuro haverá apenas elétricos puros é difícil. Haverá várias soluções, como o hidrogênio, que vem sendo desenvolvido pela BMW. Mas, obviamente, a eletrificação tem um papel muito importante nesse processo.

 

Como foi o setor de motos em 2021? Há planos de trazer modelos elétricos?

A gente tem motos de várias cilindradas no País. Vai da G310 até modelos 1.250, 1.600. A G310 e a F310 têm aceitação fantástica no Brasil. Assim como a 1.250 GS, que é líder de vendas do segmento. Estamos muito bem. Vendemos quase 12 mil motos em 2022, o que representa um crescimento de 14% em relação a 2020. Estamos desenvolvendo motos elétricas e mantemos todos os produtos no nosso radar. Porém, não há nenhum plano confirmado para o País.

 

Que dica o sr. daria ao Aksel que estava em início de carreira há 20 anos?

Uma das principais características de quem está no começo da carreira é a ansiedade. Eu diria: “As coisas vão dar certo, no momento certo. Tenha um pouco de paciência.” Estou com 45 anos e aprendi que a gente cresce mais quando sai da zona de conforto. Porém, também não pode ficar o tempo todo apenas trabalhando sob alta pressão. (O Estado de S. Paulo/Tião liveira)