A disparada dos preços do petróleo

O Estado de S. Paulo

 

As cotações do petróleo voltaram a galopar no mercado internacional. Nesta quinta-feira, o petróleo WTI com entrega para fevereiro fechou com ganhos de 2,06%, a US$ 79,46, enquanto o preço do barril do tipo Brent para março fechou o dia em alta de 1,47%, a US$ 81,99. Apenas nestes quatro dias úteis do ano, os preços do tipo Brent subiram 5,4% e, em 30 dias, avançaram 12,4%.

 

Os analistas apressaram-se a buscar explicações imediatas para essa disparada, como a das crises no Cazaquistão e na Líbia. Mas, se não essas, poderiam ser outras, a começar pela falta de disposição do cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de aumentar a oferta mundial.

 

O principal fator a considerar é que, independentemente de eventuais detonadores, os preços já estão fortemente instáveis, com tendência para alta. Como o ambiente geral no mercado internacional é de aumento das contaminações pela covid-19, seria de esperar efeito contrário. Ou seja, com a volta de políticas restritivas e de distanciamento social, a atividade econômica tende a se enfraquecer e, com ela, seria enfraquecida também a demanda por energia. No entanto, parece prevalecer o temor de que o fluxo de produção e comercialização volte a se complicar e, com isso, os países consumidores estejam tratando de reforçar seus estoques de petróleo – o que aumenta a demanda imediata. Reafirma essa impressão a suspensão e adiamento de voos e cursos de navegação porque as tripulações de aviões e de navios estão infectadas pelo coronavírus. É perspectiva de menos mercadorias e menos insumos chegando ao seu destino final.

 

A esta altura não há condições de antever com segurança o comportamento dos preços. É incerteza que reforça a alta.

 

Petróleo

 

O impacto sobre a economia do Brasil enfrenta outras fontes de pressão. A mais importante recai sobre a Petrobras. Nesta quinta-feira, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) avisou que a falta de reajustes dos preços internos de combustíveis (o diesel foi reajustado há 73 dias e a gasolina há 23 dias, segundo dados da associação) inviabiliza as importações dos derivados.

 

A “defasagem” nos preços pode não ser de 7% para o diesel e de 8% para a gasolina, como calcula a Abicom, mas é inegável que, pelos critérios da paridade internacional de preços em reais, com base nas cotações externas e na evolução do câmbio, há atrasos nas correções dos preços.

 

A Petrobras está sob pressões em torniquete. Do ponto de vista técnico será preciso reajustar os preços para cima, o que também seria inflação na veia. Mas as pressões políticas para que a Petrobras absorva prejuízos tendem a aumentar neste ano eleitoral. Nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a apontar a inexistência de investimentos em refinarias como fator de encarecimento dos preços internos, o que seria pressão adicional para que a empresa adote mais critérios sociais ou políticos do que técnicos. E não esconde que pretende segurar ou abater os preços internos. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)