O Estado de S. Paulo
As exportações brasileiras superaram as importações em 2021, que fechou com um saldo positivo de US$ 61 bilhões, o maior já registrado em um ano. Mas, com o aumento do dólar e a compra de combustíveis e energia elétrica em meio à crise hídrica, o nível de importações surpreendeu e frustrou as previsões do governo. O saldo ficou abaixo da projeção do Ministério da Economia divulgada no início de dezembro, de superávit de US$ 70,9 bilhões.
De acordo com os dados da Secretaria de Comércio Exterior, o resultado da balança comercial de 2021 foi 21,1% superior ao de 2020, quando houve superávit de US$ 50,4 bilhões. Ainda em setembro, o saldo acumulado em 2021 já havia batido o valor recorde anual, US$ 56 bilhões, de 2017.
No ano passado, a corrente de comércio (soma das exportações e importações) avançou 35,8%. As exportações somaram US$ 280,394 bilhões (alta de 34% na comparação com o ano anterior).
Peso do ferro
Um dos destaques é o minério de ferro, com alta de quase 73% embalada pelos preços e pela recuperação de países consumidores, principalmente China.
Já as importações chegaram a US$ 219,386 bilhões em 2021 (alta de 38,2%). O crescimento das importações em 2021 está relacionado também às compras de itens como vacinas e insumos industriais.
“Tivemos surpresa positiva nas importações. Há correlação de aumento das importações e recuperação da economia brasileira”, afirmou o secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz.
No ano, houve crescimento de 62,4% nas exportações da indústria extrativa, de 26,3% em produtos da indústria de transformação e de 22,2% em agropecuária, que enfrentou quebras de safra.
Já nas importações, dobraram as compras da indústria extrativa, e houve alta de 35,1% em produtos da indústria de transformação e 30,2% em agropecuária.
Descompasso Economista observa que ganho foi puxado por preços mais altos, não por volume de bens exportados e pesquisador associado da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ressalva que o resultado positivo da balança comercial tem a ver com a alta dos preços, principalmente de minério de ferro e de soja, e não com a maior quantidade de bens vendidos ao exterior. Enquanto o valor das exportações brasileiras subiu 29,9% até novembro, o volume de produtos exportados subiu apenas 2,8%.
Além disso, nos últimos meses do ano, o preço do minério de ferro teve uma redução, o que levou a um resultado mais fraco do que o esperado. “Se por um lado, a gente teve um saldo comercial relativamente alto na história recente brasileira, por outro, é inequívoco que houve certa frustração, principalmente nos últimos quatro meses do ano”, afirma.
Previsão para o ano
Para 2022, a Secex prevê um saldo comercial de US$ 79,4 bilhões, o que representaria um aumento de 30% em relação ao resultado recorde de 2021.
Apesar das projeções otimistas do governo, o cenário pode não ser tão favorável. Segundo economistas, a redução dos preços das commodities, responsáveis em grande parte pelo recorde das exportações em 2021, deve levar o saldo comercial brasileiro de volta ao patamar de dois anos atrás, já que as importações devem seguir em alta apesar da perda de ritmo da atividade econômica.
Para Alexandre Lohmann, economista da Constância Investimentos, a diferença das exportações em relação às importações deve recuar para algo próximo a US$ 50 bilhões em 2022. “Tivemos uma boa notícia com a divulgação dos US$ 61 bilhões em superávit de 2021, mas, na segunda metade deste ano, devemos ter uma redução dos preços das matérias-primas”, afirmou. (O Estado de S. Paulo/Lorenna Rodrigues. Eduardo Laguna e Filipe Serrano)