O Estado de S. Paulo.
Os cientistas ainda não dominam as características da nova variante da covid-19, a Ômicron. Sabem que se espalha rapidamente e que produz sintomas mais leves, mas seu nível de letalidade ainda segue em análise. Também pouco se sabe até que ponto as vacinas são eficazes para controlá-la e se os plenamente vacinados estão imunes a ela.
A partir destas incertezas, as consequências sobre a economia do mundo e do Brasil também estão envolvidas em mais incertezas. No entanto, pelo sim ou pelo não, na semana passada, três dos maiores bancos centrais do mundo decidiram fazer o que está a seu alcance.
As autoridades sanitárias de muitos países já começam a restringir não apenas viagens internacionais, mas, também, aglomerações de pessoas. Muitos analistas acreditam que, outra vez, a recuperação da atividade econômica será contida por três fatores: pela necessidade de manter funcionários em casa; por novas paralisações ou retardamentos nos fluxos globais de mercadorias, que, por sua vez, podem atrasar a chegada de matérias-primas e produtos intermediários às linhas de produção; e pela redução do ritmo de contratação de mão de obra.
Do ponto de vista da inflação, a nova onda lança incertezas em ambas as direções. Tanto pode derrubar o consumo e os serviços (como viagens e refeições em restaurantes) e, nesse caso, pode conter a alta de preços; como pode puxar pelos custos de produção, pela desorganização dos fluxos e paralisação parcial das linhas de montagem.
Independentemente dessas incertezas, os grandes bancos centrais passaram a agir, como se estivessem coordenados. Na última semana, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) avisou que elevará os juros três vezes ao longo de 2022 e começará o tapering, ou seja, começará a paralisar o atual despejo de recursos na economia. Na quinta-feira, o Banco da Inglaterra (banco central) elevou os juros pela primeira vez em três anos. E o Banco Central Europeu (área do euro) avisou que, em março, vai parar de comprar títulos e, assim, deixará de lançar dinheiro nas praças.
A partir daí, o mercado financeiro global operou com o breque de mão puxado. Só não deslizou de uma vez, no pressuposto de que o diagnóstico básico é de que o risco de aumento de inflação está ligado ao aumento de custos (e não ao aumento da demanda) e, por isso, a alta dos juros deverá ser moderada. Afora isso, se houver significativa desaceleração da atividade econômica, novas baixas nas cotações do petróleo e das commodities podem ocorrer – o que ajudará a conter a inflação.
De todo modo, o impacto sobre a economia do Brasil será inevitável, embora não se saiba ainda em que proporção. (O Estado de S. Paulo)