O Estado de S. Paulo
Poucos meses depois de anunciar a descoberta de um novo método para a obtenção de nanopartículas de nióbio, a companhia gaúcha Randon e sua controlada Fras-le acabam de lançar oficialmente uma empresa que se dedicará exclusivamente a esse novo negócio. Batizada Nione, terá como foco o uso da tecnologia em materiais em diversas indústrias, como a siderúrgica e a automobilística – a última já é o foco principal de atenção do grupo com mais de 70 anos de estrada, conhecido pela produção de implementos rodoviários.
O nióbio, metal que nos últimos anos ganhou fama por conta das exaltações que recebe do presidente Jair Bolsonaro, tem sido uma aposta da indústria automotiva e poderá ser peça-chave na corrida pelos carros elétricos. O País responde hoje por 90% da produção de nióbio no mundo, com boa parte do volume concentrado na CBMM, que pertence à família Moreira Salles.
O material permite potencializar as características de outros insumos – provendo mais durabilidade e diminuindo o peso, algo relevante na medida em que se busca mais sustentabilidade da indústria automobilística. A patente relativa à obtenção das nanopartículas de nióbio já foi requerida pela Fras-le.
Vice-presidente do Grupo Randon e presidente da Frasle, Sergio Carvalho aponta que o desenvolvimento desse novo produto começou em 2017, momento em que o grupo criou uma divisão dedicada a novas tecnologias. “Estávamos em busca de melhorar as propriedades mecânicas de uma determinada peça e descobrimos esse processo de manufatura, com benefícios em relação ao peso e à sustentabilidade”, diz.
Segundo o executivo, um dos problemas do uso do nióbio era seu alto custo, o que inviabilizava seu uso em escala comercial – questão que pode ser resolvida com as nanopartículas. “Fizemos um tambor de freio com o uso de nióbio que melhorou a durabilidade em 40%, mas o preço também subiu 40%. Com a nanotecnologia, o custo subiu apenas um pouco, o que ajudou a equacionar o custo-benefício”, conta.
A descoberta deve ser colocada em breve no mercado. Em parceria com a catarinense Weg, o grupo aplicou as nanopartículas de nióbio em tintas automotivas. Em testes, uma peça de revestimento à base dessa solução suportou a ação de agentes corrosivos por cerca de mil horas. Essa mesma tinta já foi utilizada para revestir os discos de freio, produto muito exportado aos EUA. Para Carvalho, o produto deverá ser bem recebido no mercado norte-americano por conta do elevado grau de corrosão nos veículos no inverno por conta da neve, por exemplo.
Os últimos anos têm sido de rápido crescimento da Randon. A empresa tem hoje 28 unidades produtivas, com produtos presentes em 100 países. Nos últimos cinco anos, a empresa fez 13 aquisições, com seu total de funcionários passando de 8 mil para 15 mil. Com a Nione, que acaba de ser lançada, a empresa já possui 40 CNPJS.
Professor titular do departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Carlos Oliveira afirma que a maior demanda do nióbio vem dos aços especiais para a indústria automobilística. No entanto, o professor da UFMG afirma que há estudos para o uso do metal em outras indústrias, o que deve aumentar ainda mais a demanda pelo nióbio. Ele conta que a startup Nanonib, criada no parque tecnológico da UFMG, desenvolveu uma partícula que, a partir do nióbio, é capaz de eliminar o coronavírus – o produto aguarda liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). (O Estado de S. Paulo/Fernanda Guimarães)