Aceleração da Selic para deter inflação pressiona juros aos consumidores

O Estado de S. Paulo

 

As empresas e famílias que buscam empréstimos nos bancos já estão sentindo no bolso os efeitos da corrida do Banco Central atrás da inflação. O aperto monetário com o ciclo de elevações consecutivas da Selic faz com que todas as modalidades de créditos fiquem mais caras, e os juros devem continuar subindo ao longo do próximo ano.

 

Dados divulgados ontem pelo BC mostram que a taxa média de juros no crédito livre que reúne operações que não utilizam recursos do BNDES ou da poupança – saltou de 30,6% ao ano em setembro para 32,8% ao ano em outubro. Em outubro de 2020, essa taxa estava em 26,5% ao ano. Com o resultado de outubro, a taxa média de juros no crédito livre acumulou alta de 7,3 pontos porcentuais nos dez primeiros meses de 2021.

 

A subida acompanha a elevação da Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Até março deste ano, a taxa básica de juros – que forma o custo de captação de recursos pelos bancos – estava no piso histórico de 2,00% ao ano. De lá para cá, a taxa já subiu para 7,75% após seis elevações consecutivas, e o mercado aposta que o BC não irá parar até a Selic chegar aos dois dígitos, ou seja, superar os 10,0%.

 

A taxa média de juros no crédito livre (sem contar habitacional, rural e BNDES) para as famílias passou de 41,3% para 43,8% ao ano de setembro para outubro, enquanto para as empresas foi de 17,1% para 19,1%. Entre as principais linhas de crédito livre para pessoas físicas, a taxa do cheque especial passou de 129,6% para 128,8% ao ano em outubro. No crédito pessoal, a taxa passou de 33,1% para 35,4% ao ano. O juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito de 339,5% para 343,6% ao ano.

 

A economista da consultoria Tendências, Isabela Tavares, destaca que os spreads (diferença entre o que o custo do banco para captar o dinheiro e o que ele cobra do cliente) também aumentaram em outubro, reforçando a ideia que os bancos passaram a ver um risco maior de crédito nas novas operações. “Há uma piora adicional nas condições de financiamento, com juros mais altos e prazos menores de pagamento. Isso deve levar a uma desaceleração a nas concessões de crédito em 2022”, considera. “Mas uma série de mudanças recentes que ampliaram a competição no setor bancário deve segurar um pouco a subida dos juros”, completa.

 

Mesmo com os juros em alta, a inadimplência nas operações de crédito livre com os bancos continuou em 3,0% de setembro para outubro. A taxa está estacionada em 3,0% desde julho deste ano. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Rodrigues e Thaís Barcellos)