“Prévia” do PIB indica recessão técnica no País

O Estado de S. Paulo

 

Conhecido como uma “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Atividade (IBC-BR) medido pelo Banco Central registrou queda de 0,14% no terceiro trimestre do ano, na comparação com os três meses anteriores. Como o indicador também já havia mostrado recuo no período de abril a junho (de 0,35%), ficou caracterizado o que os economistas chamam de recessão técnica.

 

O resultado levou o mercado a revisar para baixo suas estimativas para o ritmo de atividade tanto no terceiro trimestre como no fechamento do ano e em 2022. De acordo com levantamento do Projeções Broadcast, a mediana das previsões para o terceiro trimestre passou a ser de variação zero. Antes, a mediana para o período era de crescimento de 0,3%. Para o fechamento deste ano, a expectativa do mercado caiu de 5% para 4,8%, enquanto para 2022 recuou de 1,5% para 0,5%.

 

O resultado oficial do PIB no País é medido pelo IBGE, que só vai divulgar no início de dezembro os números referentes ao terceiro trimestre.

 

Em setembro, na comparação com agosto, o IBC-BR teve queda de 0,27% na série já livre de influências sazonais (uma espécie de compensação que é feita para comparar períodos diferentes). De agosto para setembro o IBC-BR passou de 138,93 pontos para 138,56 pontos, no menor patamar desde dezembro do ano passado (138,27 pontos).

 

O IBC-BR serve como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. A projeção atual do BC para a atividade doméstica em 2021 é de crescimento de 4,7%. Esta estimativa foi atualizada no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), em setembro.

 

O coordenador do departamento econômico do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, reduziu a projeção de crescimento do PIB no trimestre de 0,2% para zero. Para o economista, a contração de 0,14% do IBC-BR na margem do trimestre confirma um viés de baixa para a atividade.

 

Nas contas de Xavier, o crescimento de 3% do volume de serviços prestados no terceiro trimestre deve garantir uma expansão de 1,5% para o PIB do setor no período. Em contrapartida, o economista prevê contração de 1% do PIB industrial e uma queda da agropecuária.

 

Retração

 

Para 2021, Xavier reduziu a projeção de crescimento do PIB de 5% para 4,8%. Em 2022, o economista diminuiu a estimativa de 0,5% para 0,1%, mas não descarta uma contração da atividade. “A mensagem principal é a que existe uma desaceleração contratada no ano que vem, com juro real para cima, incerteza econômica e pauta fiscal que não ajuda. A perspectiva da safra está boa e deve segurar um pouco o PIB, mas existe chance de queda”, afirma.

 

Já a XP Investimentos projeta variação zero para o PIB no terceiro trimestre, com crescimento de 4,3% na comparação anual. “Há algumas semanas, chegamos a esperar crescimento de 0,5% na margem, mas, dada a decepção com os indicadores de atividade, principalmente em setembro, a previsão passou por revisões baixistas”, afirma o economista Rodolfo Margato.

 

Para 2022, a expectativa é de crescimento de 0,8%, também com viés de baixa. “O comportamento inflacionário recente tem surpreendido. Com base nisso, talvez o Banco Central precise apertar mais sua política monetária, mesmo diante do quadro de enfraquecimento da atividade doméstica”, afirma Margato, que projeta Selic terminal de 11,0%, em março de 2022. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Rodrigues, Guilherme Bianchini e Cícero Cotrim)