Carro por assinatura: desapego, praticidade e conveniência

O Estado de S. Paulo/Modalidade

 

Apesar da falta de semicondutores, que ainda causa escassez de veículos novos nas lojas, a modalidade de carro por assinatura deve se desenvolver rapidamente, quando o fornecimento de componentes normalizar. A previsão é de Fábio Siracusa, head de operações da Flua!, plataforma de assinaturas das marcas Jeep e Fiat. De acordo com ele, mesmo sendo um novo modelo de negócios, e ainda incipiente, a modalidade tem tudo para atrair um novo perfil de público. “É um cliente sem apego à propriedade”, define.

 

Segundo o executivo, uma modalidade não exclui a outra. “para alguns clientes, a melhor opção continuará sendo a compra. Para outros, a assinatura. Para outra parcela, o usado seminovo pode ser a melhor escolha”, declara. “estamos trabalhando uma forma de auxiliar o cliente a identificar o perfil dele, e vamos ter oferta para todos.”

 

O serviço, que começou em janeiro em poucas lojas de São Paulo e do Paraná, já se estendeu a 112 concessionárias espalhadas por 16 Estados, e Siracusa sustenta que o crescimento tende a continuar. “devemos incluir mais algumas lojas até o final do ano. A expansão está um pouco além do que havíamos previsto, e tivemos uma demanda mais alta dos concessionários.”

 

Como o Flua! foi lançado um dia antes da fusão da FCA com a PSA (que resultou no grupo Stellantis), atualmente, ele contempla somente modelos da Fiat e da Jeep, mas o executivo garante que, “em algum momento”, os veículos das marcas francesas (Peugeot e Citroën) também serão oferecidos, embora não tenha dado pistas de quando isso irá ocorrer.

 

Um aspecto que pode definir a opção pela assinatura, na opinião de Siracusa, é intangível. Embora seja uma variável que não entra em nenhuma conta matemática, a conveniência pode fazer com que o interessado desista de comprar. Isso porque a aquisição implica gastos adicionais com seguro, emplacamento, IPVA etc.

 

Decisão veio do céu

 

No início do ano passado, fortes chuvas causaram alagamento na zona oeste de São Paulo, e o Chevrolet Agile 2011 da professora universitária Daniele Aprile e do técnico de handebol Alex Aprile ficou submerso na garagem do prédio onde moram, e teve perda total. “O curioso é que, no domingo, a gente conversou que estava na hora de fazer pequenos reparos nele para trocar. Na segunda, perdemos o carro”, relembra. A professora diz que, na época, o modelo estava cotado em R$ 23.500, na tabela da Fipe, mas que não iria conseguir mais do que R$ 15.000 no mercado, por causa do estado do veículo.

 

Com o valor integral recebido da seguradora, o casal passou um período se deslocando por meio de carro por aplicativo, trem e bicicleta, enquanto decidia o que fazer. De acordo com a professora, a ideia era comprar um automóvel novo na faixa de R$ 50 mil. Em um domingo, o casal e os dois filhos foram a algumas concessionárias, e já consideravam também a aquisição de um seminovo. O objetivo era dar o dinheiro recebido da indenização como entrada e financiar a diferença, desde que a mensalidade ficasse na faixa de R$ 1 mil.

 

No caminho para casa, para almoçar e fazer uma pausa antes de visitar outra loja à tarde, ouviram no rádio um comentarista falando sobre a modalidade de assinatura, e passaram a fazer as contas. “A gente ia dar R$ 25.000 e financiar outros R$ 25.000. No final, em 36 meses, iríamos pagar quase R$ 70.000”, afirma a professora. Com as contas feitas, o casal decidiu fechar um contrato de assinatura por 36 meses de um Chevrolet Joy Plus, com custo fixo de R$ 1.089 mensais. “O dinheiro está indo para algo que não é nosso, mas não temos esse apego, não queremos personalizar o carro, nada disso”, diz. Ela se contenta com o fato de não ter de se preocupar com seguro, manutenção, revisões, IPVA, etc. “Não tenho de pagar nada além da mensalidade nem de me preocupar com a possibilidade de perder dinheiro na revenda”, declara “pago R$ 20 a mais para ter direito a carro reserva, mas só isso.” Quanto ao dinheiro da indenização do Agile, Daniele informa que ele foi utilizado para abater no financiamento do apartamento do casal. (O Estado de S. Paulo/Modalidade/Hairton ponciano)