Antes motor para o PIB, cenário externo agora puxa projeções para baixo

O Estado de S. Paulo

 

Desde que a economia brasileira ensaiou uma recuperação, em meados do ano passado, a conjuntura global ajudava o País. Isso durou pelo menos até a primeira metade do ano. Nas últimas semanas, porém, ao revisar para baixo as projeções de crescimento econômico do Brasil em 2022, economistas de bancos como Itaú, Bradesco e Jpmorgan citaram o cenário externo menos favorável entre os motivos para esperar um desempenho pior.

 

Segundo economistas ouvidos pelo Estadão, há dois riscos. Um é a elevação de juros em vários países, com a retirada de estímulos monetários para mitigar a crise da covid-19 e a necessidade de combater uma inflação espalhada por todo o planeta, de forma inédita. O segundo é uma eventual desaceleração mais acentuada do crescimento econômico da China, por causa dos problemas financeiros da incorporadora imobiliária Evergrande. As turbulências do exterior afetam a economia nacional por dois canais. Um é o comércio exterior, com a menor demanda por matérias-primas como soja, minério de ferro, carnes ou celulose. O outro é o setor financeiro, um canal indireto.

 

Como as exportações não impulsionam toda a economia brasileira, o canal financeiro “é fundamental”, e até mais importante que o comércio exterior, de acordo com José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV). Do início do ano para agora, mudaram as expectativas de que uma alta generalizada de juros poderia demorar, disse Senna. Os juros dos títulos públicos americanos já começaram a subir nas últimas semanas e, “agora, todos estão esperando que os bancos centrais vão antecipar o ajuste de juros (para cima)”.

 

“É exatamente disso de que nós não precisamos. Já temos problemas internos demais”, disse o pesquisador da FGV, ex-diretor do Banco Central (BC).

 

Exportações

 

Ao revisar sua projeção de crescimento econômico de 2022 no Brasil para 1,6% – antes era 1,8% – em relatório divulgado recentemente, o Bradesco destacou o cenário externo, com a China em primeiro plano. O banco estimou o preço “justo” do minério de ferro em US$ 120 por tonelada, o que tira “bilhões de dólares da pauta de exportações” do Brasil, disse Fabiana D’atri, coordenadora do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco.

 

“Para o Brasil, a China ainda é o mais importante quando olhamos para a demanda externa. É o principal destino das exportações brasileiras”, disse a economista-chefe do Jpmorgan para o Brasil, Cassiana Fernandez, no mês passado, ao comentar a revisão de projeções do banco de investimentos, que agora estima avanço de apenas 0,9% no Brasil em 2022.

 

Economistas especializados na China descartam uma crise sistêmica no setor imobiliário local, mas destacam que a desaceleração do gigante asiático é um movimento estrutural.

 

“A China ainda é o mais importante (fator) para a demanda externa. É o principal destino das exportações”, Cassiana Fernandez Economista do Jpmorgan. (O Estado de S. Paulo/Vinicius Bruno Villas Boas)