O Estado de S. Paulo
Indicador oficial de inflação do País, o IPCA teve alta de 1,16% em setembro, maior variação para o mês desde a adoção do Plano Real, em 1994. Em 12 meses, o acumulado chegou a 10,25%. Habitação, transportes e alimentação foram responsáveis por 86% do IPCA de setembro. Com preços em alta e baixo crescimento, economistas veem risco de estagflação.
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Indicador oficial de inflação do País, IPCA teve alta de 1,16% no mês passado, a maior variação para o período desde a adoção do Plano Real, em 1994; com reajustes de preços e perspectiva de baixo crescimento, economistas veem risco de estagflação
Sob a pressão dos aumentos de energia elétrica, gasolina, passagem aérea e botijão de gás, o IPCA, indicador oficial de inflação no País, teve alta de 1,16% em setembro – o pior resultado para o mês desde 1994, ano de implantação do Plano Real. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses rompeu o patamar de dois dígitos, chegando a 10,25% no mês passado, ante a meta de 3,75% (com tolerância de 1,5 ponto) perseguida pelo Banco Central neste ano.
Os reajustes de preços nos grupos habitação, transportes e alimentação responderam por cerca de 86% do IPCA de setembro. Entre os itens de maior impacto, os que mais contribuíram para a inflação foram energia elétrica (0,31 ponto porcentual), gasolina (0,14 ponto), passagem aérea (0,10 ponto), botijão de gás (0,05 ponto) e automóvel novo (0,05 ponto).
A gasolina subiu 39,60% nos 12 meses encerrados em setembro, enquanto o etanol variou 64,77%. A energia elétrica acumula um aumento de 28,82%. Já o botijão de gás aumentou 34,67% em 12 meses, mas vem subindo ininterruptamente há 16 meses consecutivos, período em que acumulou uma alta de 39,64%. As carnes ficaram 24,84% mais caras nos 12 meses encerrados em setembro, enquanto as passagens aéreas subiram 56,81%.
O cenário de pressão inflacionária somado a um crescimento econômico baixo aumenta o temor entre economistas de que o Brasil esteja prestes a passar por um período de estagflação. Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o País já passa por uma moderada estagflação, ao considerar que, mesmo que a crise sanitária sinalize um fim, os efeitos ainda vão demorar para findar. “Olho a pandemia não a partir de um ano só, mas de três. Ainda está presente e ainda estará, de certa forma, em grau menor, mesmo com o avanço da vacinação. Há dúvidas em relação a novas cepas. Portando, considerando três anos de pandemia, estamos passando por um período suave de estagflação”, afirmou ele, ao estimar uma inflação acumulada de 18% no período e um PIB per capita caindo para a faixa de 1,3%.
O encarecimento da cesta de produtos já tem reduzido a demanda por vários itens, esfriando a atividade doméstica. Nesta semana, por exemplo, o alerta veio das vendas varejistas de agosto, que caíram 3,1%, contrariando as expectativas de expansão.
“É difícil afirmar categoricamente que uma economia está estagnada. Não há dúvida, por outro lado, de que há inflação no Brasil. Então, estagflação pode ser um exagero, mas que estamos muito perto disso, se é que não estamos nisso, não há dúvida”, disse o ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), José Júlio Senna. (O Estado de S. Paulo/Daniela amorim, Maria Regina silva e Thaís Barcellos)