O Estado de S. Paulo
A Petrobras anunciou reajuste de 8,9% para o óleo diesel. O presidente da Câmara, Arthur Lira, culpou governadores por alta.
Menos de 24 horas após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que gostaria que os preços dos combustíveis caíssem, a Petrobras anunciou ontem reajuste de 8,9% para o óleo diesel. A alta já chega hoje ao bolso do consumidor. Donos de postos avisaram que vão repassá-la imediatamente. No ano, o aumento acumulado do diesel chega a 51%.
“O problema é que, quando a Petrobras sobe o preço, o efeito é em cadeia. O ICMS é calculado por uma alíquota sobre o preço. Então, automaticamente, aumenta o imposto. A tendência é ter repasse na revenda porque a alta de preços da Petrobras gera efeito em cascata. Não tem jeito”, afirmou Rodrigo Leão, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
Caminhoneiros voltaram a ameaçar parar o País em uma greve da categoria. Em uma situação semelhante em fevereiro deste ano, Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.
Paulo Miranda, presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), disse que os donos de postos não têm como assumir o prejuízo e devem aumentar os preços hoje.
O anúncio da alta no diesel foi feito no dia seguinte à convocação de uma entrevista coletiva, às pressas, pela Petrobras, para que dizer que não é a “vilã” dos altos preços dos combustíveis. Joaquim Silva e Luna, presidente da estatal, abriu a entrevista afirmando que não vai alterar a política de preços de reajustes, o PPI. “Continuamos trabalhando da mesma forma, acompanhando o mercado internacional e o câmbio”, afirmou.
A fala do general contrariou Bolsonaro, que ontem mesmo, pela manhã, procurou o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, para dizer que quer “melhorar ou diminuir” os preços dos combustíveis. O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-al), também reclamou e convocou uma reunião com líderes para hoje para discutir alternativas (mais informações nesta página). Na semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também se queixou da pressão dos combustíveis sobre a inflação.
Entre os consumidores, a maior pressão vem dos caminhoneiros. “Estamos avisando que estamos no limite. O combustível está subindo sucessivamente. Precisamos tomar uma atitude mais enérgica”, disse Wallace Landim, conhecido como Chorão, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava). “O presidente precisa parar de transferir a responsabilidade e fazer política”, acrescentou. Além de analisarem nova greve, os caminhoneiros pedem a atualização do piso mínimo do frete rodoviário.
Uma revisão do frete pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) gera efeito direto na economia, pois a maioria da logística brasileira é rodoviária. Como o diesel não é muito consumido em carros de passeio, sua variação de preço não tem muito peso no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE. O prejuízo é indireto, segundo André Braz, coordenador adjunto do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O gás de cozinha, por exemplo, tende a ficar mais caro, porque boa parcela do custo do seu comércio é de transporte. O mesmo vale para os alimentos.
Mais aumentos
Ao anunciar a alta do diesel, a Petrobras sinalizou que há espaço para novos reajustes. Em nota, a estatal afirmou que a revisão reflete apenas “parte da elevação nos patamares internacionais de preços de petróleo e da taxa de câmbio”.
Concorrentes disseram que a estatal repassou só a metade da defasagem do mercado internacional. De acordo com Sérgio Araújo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), para se alinhar de fato aos fornecedores externos, a Petrobras teria de reajustar o litro do diesel em R$ 0,50, e não em R$ 0,25.
Luciano Losekann, especialista em petróleo e professor do Instituto de Economia da UFF, disse, no entanto, que a Petrobras tem recorrido ao mercado futuro para oferecer preços melhores do que os negociados no mercado à vista. “Mecanismos de hedge (proteção a variações pontuais) permitem que a empresa pratique preços não alinhados (com o mercado externo) por alguns dias”, diz.
Neste mês, o diesel de baixo teor de enxofre ficou 3,7% mais caro no mercado à vista do Golfo do México, enquanto o valor da gasolina caiu 1,6%. Isso explica por que a Petrobras decidiu não mexer na gasolina agora. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Nunes, Isadora Duarte e Audryn Karolyne)