Radiografia do transporte público por ônibus em São Paulo

O Estado de S. Paulo

 

Aos poucos, São Paulo começa a voltar ao normal. Um dos motivos é que, com a retomada de muitas atividades que hibernaram nos últimos meses e com o avanço da aplicação da segunda dose das vacinas, o movimento começa a aumentar.

 

Isso pode ser comprovado pelo número maior de pessoas presentes nas ruas, dentro dos ônibus e nos trens do metrô. Embora, é verdade, muita gente não tenha deixado de usar o transporte público, mesmo nos meses mais restritivos, durante a pandemia.

 

Mas, em se tratando do transporte público por ônibus, qual o cenário atual, quase 18 meses após a decretação da pandemia, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em março do ano passado?

 

Segundo a Secretaria de Mobilidade e Trânsito (SMT), da Prefeitura de São Paulo, atualmente circulam, todos os dias, pelas ruas da capital paulista, 11.312 ônibus, que transportam cerca de 2,15 milhões de passageiros. Ainda de acordo com dados da SMT, esse total de usuários corresponde a 65% da demanda registrada antes da chegada da pandemia, que era de 3,3 milhões de pessoas transportadas em dias úteis.

 

Já a SPTrans informa que a quantidade de ônibus nas ruas está acima da demanda, com 93,41% da frota circulando pelos bairros mais afastados do centro e 88,28% por toda a cidade.

 

Mas, se há ônibus suficientes nas ruas, por que é comum, sobretudo nos horários de pico, os coletivos circularem acima da lotação, causando aglomerações de passageiros indesejadas?

 

“Esse problema existe no mundo todo, não é exclusividade de São Paulo”, diz Francisco Christovam, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss). “Nenhum sistema é projetado para trabalhar com lotação de banco – ou seja, somente com usuários sentados. Numa conta rápida, em São Paulo, no horário da manhã, os ônibus chegam a transportar 800 mil pessoas. Para não ter lotação, deveria haver 29 mil deles nas ruas, e essa quantidade não cabe na cidade”, esclarece Christovam.

 

Inteligência na rede

 

Mas deve haver outros caminhos para tentar solucionar o problema de escalonamento. “O que o usuário de transporte público mais deseja são regularidade e tempo de viagem curto. Regularidade significa o ônibus passar nos pontos nos horários prometidos. Para que isso aconteça, antes de mais nada, é preciso dar prioridade aos coletivos nas vias para evitar que eles parem nos engarrafamentos”, afirma Sergio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq. Futuro de Cidades, do Insper.

 

“Outro aspecto fundamental é a implantação de sistema de inteligência na rede para fornecer informações detalhadas para melhorar a operação e informar os usuários, em dispositivos eletrônicos, sobre a situação e a localização dos ônibus, em tempo real”, finaliza Avelleda. (O Estado de S. Paulo/Heverton Nascimento)