Inflação e desemprego seguram PIB e mercado já refaz estimativa para o ano

O Estado de S. Paulo

 

O Produto Interno Bruto do País encolheu 0,1% no segundo trimestre do ano, na comparação com o trimestre anterior. A alta da inflação e do desemprego afetou o desempenho. O consumo das famílias ficou estagnado. O resultado do PIB surpreendeu analistas, que esperavam alta de 0,2%, e provocou uma onda de revisões para baixo nas projeções para o ano. Nos próximos meses, o avanço da vacinação contra a covid-19 deve ter efeitos positivos nos serviços, mas a economia poderá ser afetada pela crise hídrica, pela inflação e pela quebra de safra. Entre as más notícias que marcaram o trimestre, estão turbulência política, segunda onda da covid, estiagem e problemas de abastecimento na cadeia produtiva.

 

Os efeitos da alta da inflação e do mercado de trabalho precário afetaram o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre do ano, que encolheu 0,1% na comparação com o trimestre anterior. O resultado surpreendeu os analistas ouvidos em levantamento do Projeções Broadcast, que apostavam em uma alta de 0,2%, e provocou uma onda de revisões para baixo nas projeções para o fechamento do ano.

 

Entre as instituições que já reduziram suas estimativas para o PIB em 2021, estão Goldman Sachs (de 5,4% para 4,9%), Jpmorgan (5,5% para 5,2%), Fundação Getúlio Vargas (5,2% para 4,9%), Banco Mizuho (5,5% para 5,2%) e Banco Original (5,5% para 5,3%). Já Itaú Unibanco, XP Investimentos e Banco Inter mantiveram por ora suas projeções – de 5,7%, 5,5% e 5,3%, respectivamente –, mas atribuíram viés de baixa ao número.

 

Se, por um lado, o avanço da vacinação contra a covid-19 deve provocar alguma “normalização” em serviços afetados pelas restrições ao contato social, por outro a economia deverá ser afetada negativamente pela crise hídrica, inflação e quebra de safra, enumera Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, do IBRE/FGV.

 

“Quando olhamos para frente, o que vemos são crescimentos medíocres de 2%”, afirmou o ex-presidente do Banco Central e atual sócio da Tendências Consultoria Integrada, Gustavo Loyola, que espera uma alta de 4,5% no PIB neste ano, seguida de expansão de 2% a 2,2% no ano que vem.

 

Entre as más notícias que marcaram o segundo trimestre de 2021, estão os efeitos das turbulências políticas – que persistem e ameaçam os resultados futuros da economia –, a segunda onda da covid, estiagem e problemas na cadeia produtiva. Pelo lado da oferta, a escassez de insumos e os prejuízos na lavoura provocados por distúrbios climáticos levaram a perdas na indústria (-0,2% ante o primeiro trimestre) e na agropecuária (-2,8%). Houve melhora no setor de serviços (0,7%), mas ainda insuficiente para impulsionar o setor de volta ao nível pré-pandemia.

 

Sob a ótica da demanda, o setor externo contribuiu para evitar uma perda maior na economia, graças aos avanços nas exportações e queda nas importações, ao passo que o consumo das famílias, que responde por mais de 60% do PIB, ficou estagnado. A despeito da reedição do auxílio emergencial pelo governo, o poder de compra das famílias vem sendo prejudicado pela inflação e pelo aumento dos juros, além das dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho, citou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

 

A inflação já vinha atrapalhando o desempenho do PIB brasileiro mesmo antes do segundo trimestre, afirmou Rebeca Palis, do IBGE. No primeiro trimestre, o consumo das famílias já tinha ficado estável em relação ao trimestre imediatamente anterior, com ligeira alta de 0,1%. “A inflação tem peso relevante, sobre isso não há dúvida. Não é um fator desse trimestre especificamente”, disse Rebeca. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Vinicius Neder e Francisco Carlos de Assis)