Jornal do Carro
Nas últimas décadas, os carros foram perdendo diversos componentes. Dá para imaginar, hoje, um carro com cinzeiro? Quebra-vento, então, é algo impensável. Entretanto, indo além de meros detalhes, o que também pode virar peça de museu nos automóveis é, acredite, a caixa de câmbio manual. É um processo natural que vem ocorrendo gradativamente por conta da introdução de tecnologias de condução semiautônoma e até mesmo implantação de motorização elétrica.
Embora muitos carros ainda contenham o pedal da embreagem, tantos outros já abandonaram o recurso mundo afora. De acordo com um recente estudo da Automotive News Canada, a escassez de carros com câmbio manual só tende a aumentar. Nesse sentido, alguns modelos estão com os dias contados. Na Fiat, Doblò, Grand Siena e Uno têm aposentadoria certa, afinal, com projetos antigos, não devem ter atualizações mecânicas e visuais. Na prática, os três podem ser substituídos pelo Pulse, que tem mecânica moderna (inédito 1.0 turbo) e carroceria SUV – a mais pedida pela clientela hoje em dia. É esperado, inclusive, que o modelo promova a estreia do novo câmbio CVT da marca italiana.
Na Europa
Os grandes pivôs para essa demanda por transmissões automáticas são, entretanto, a implantação de tecnologias embarcadas como o sistema de frenagem automática de emergência, por exemplo, não compatível 100% com câmbio manual.
Com base no processo de eletrificação e automação dos carros, caiu a oferta do câmbio manual em algumas partes do mundo. A partir de 2023, a Alemanha, por exemplo, vai reduzir a oferta para alguns modelos do line-up, como Tiguan, por exemplo. No Brasil, o modelo, aliás, sempre teve apenas câmbio automático.
Por aqui, entretanto, diversos modelos deixaram de lado a opção de câmbio manual. No segmento de sedãs médios, por exemplo, quase impossível encontrar opções ao câmbio automático. E, conforme o Jornal do Carro noticiou no ano passado, os modelos com câmbio manual praticamente sumiram das concessionárias.
Mesmo na gama de SUVs, quase não há procura por unidades manuais. Quase 100% das vendas do Jeep Renegade são compostas por versões automáticas. Na Volkswagen, aliás, o T-Cross manual tem representação quase inexistente. No entanto, questionada pelo Jornal do Carro, a marca prefere não abrir o share de versões por questões estratégicas.
Realidade em modelos de entrada
Quem compra carro de entrada, certamente, está querendo gastar pouco. Logo, precisa abrir mão de algumas regalias – como o conforto. É tanto que mais de 95% dos modelos populares vendidos, como Fiat Argo, por exemplo, saem com câmbio manual. O Fox, entretanto, que não tem opção automática, não deve durar muito em linha. Afinal, nem é o mais barato da gama, nem traz a comodidade exigida pelo cliente.
Do outro lado da moeda, quem tem um pouco mais de grana prioriza, entre outras coisas, o descanso para o pé esquerdo. Para se ter ideia, o Volkswagen Nivus sequer oferece opção de câmbio manual. Na Europa, até 2030, a marca quer eliminar totalmente o câmbio manual. O mesmo deve acontecer nos Estados Unidos e China.
Elétricos dispensam câmbio manual
O fato é que a introdução de modelos elétricos vai, de vez, acabar com o câmbio manual. Afinal, modelos alimentados por baterias não possuem relações de marcha. Com o crescimento de montadoras que estabelecem uma data-limite para produzir carros a combustão, a transmissão manual fica cada vez mais de fora do cardápio.
Entretanto, para quem curte “cambiar” o carro, boas notícias. A Opel, recentemente, recriou o Manta (foto acima), que tem motor elétrico e câmbio manual. Na China, a BYD lançou a mesma solução no modelo e3, voltado à autoescolas. (Jornal do Carro/Vagner Aquino)