Os serviços na rota da recuperação

O Estado de S. Paulo

 

Após a indústria e o varejo, finalmente os serviços entraram na rota da recuperação. Segundo o IBGE, o volume de serviços teve alta pelo terceiro mês consecutivo, subindo 4,4% entre abril e junho e atingindo um patamar 2,4% superior ao pré-pandemia – o mais elevado desde 2016.

 

Todas as cinco atividades registraram avanços. Mas a evolução heterogênea mostra que a pandemia provocou mudanças conjunturais no setor, exigindo atenção diferenciada a cada segmento.

 

O destaque foi para tecnologia e comunicação. Entre maio e junho, a alta foi de 2,4%, colocando o setor quase 10% acima do nível pré-crise, no maior patamar da série histórica iniciada em 2011. Transportes e correio cresceram 1,7%, atingindo o patamar mais alto desde fevereiro de 2020.

 

Em outros segmentos a aceleração foi ainda maior, mas muitos continuam defasados em relação ao período pré-pandemia. Serviços às famílias, como alojamento e alimentação, por exemplo, subiram 8,1% em junho. Mas o setor ainda está 22,8% abaixo de fevereiro de 2020. Só no turismo, as perdas acumuladas desde o início da pandemia somam R$ 395,6 bilhões.

 

Com o avanço da vacinação, a flexibilização das restrições aos estabelecimentos e a perda de receio da população para consumir atividades de lazer, a defasagem nos serviços às famílias deve ser diluída. O dado é importante, porque, como explica Rodrigo Lobo, do IBGE, ao contrário das empresas de tecnologia, intensivas em capital, mas pouco intensivas em mão de obra, os serviços às famílias têm um caráter multiplicador em termos de geração de empregos e distribuição de renda.

 

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) elevou a projeção de crescimento dos serviços em 2021, de 5,1% para 5,8%. “O setor é, agora, o principal motor do crescimento, já que o setor industrial tem apresentado dificuldades com questões de cadeias de suprimento”, constatou o economista Alberto Ramos, em relatório do banco Goldman Sachs.

 

A recuperação poderia ser ainda mais robusta, não fossem o desemprego elevado, as restrições de renda e a alta dos juros. Mesmo limitado, esse crescimento pode elevar a inflação dos serviços, pressionando a inflação geral – o que, por conseguinte, imporia mais freios aos serviços. Em tempos excepcionais, os responsáveis pela política econômica em Brasília precisarão estar excepcionalmente atentos a essa articulação entre crescimento, inflação e juros. (O Estado de S. Paulo)