Ceará critica Ford por se negar a vender a marca Troller

O Estado de S. Paulo

 

A decisão anunciada pela Ford na segunda-feira, de encerrar a produção do jipe T4 em Horizonte, em meio às negociações para a venda da fábrica, e de retirar da oferta a marca Troller e o direito de produção do veículo provocaram críticas do governo do Ceará.

 

Em nota divulgada ontem, a Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará afirmou que a empresa descumpre o que havia combinado em janeiro.

 

“A marca Troller não é mundial, foi criada por cearenses! Esperamos que a Ford americana e a do Brasil não prejudiquem o desenvolvimento do Ceará e os trabalhadores cearenses”, disse, na nota, o secretário Maia Júnior.

 

Criada em 1995 por empresários brasileiros, que também desenvolveram o jipe depois batizado de T4, a Troller foi comprada pela Ford em 2007. Quando anunciou o fim da produção de veículos no País, em janeiro, a multinacional fechou as unidades de Camaçari (BA) e Taubaté (SP) e disse que manteria a Troller em operação até o último trimestre do ano, período em que tentaria vendê-la.

 

O governo acompanhou as negociações e esperava que o eventual comprador mantivesse a produção do veículo e os 470 empregos da planta. Havia três interessados, segundo Maia.

 

Na segunda-feira, a Ford avisou que vai encerrar a produção do jipe em setembro. Em novembro, serão produzidas peças de reposição até dia 30 e aí a fábrica será desativada.

 

Maia disse que foi surpreendido pela notícia, após telefonema do diretor institucional da Ford no Brasil, Rogério Goldfarb. Segundo ele, o executivo anunciou a suspensão das negociações alegando decisão da matriz, que contratou empresa especializada em fusões e aquisições para o processo.

 

Também disse, segundo Maia, que a venda envolveria apenas instalações e maquinários, o que, em sua visão, afasta investidores que queriam manter a fábrica em operação.

 

Busca

 

O secretário informou que o governo do Ceará continuará buscando um entendimento para que a Ford “reflita que a posição tomada pela matriz é indesejada pelo Estado”.

 

A nota acrescenta que o Ceará “reserva a posição de manter a busca pela continuidade da fábrica para o desenvolvimento do município de Horizonte e a manutenção dos empregos”.

 

Procurada ontem, a Ford não quis comentar a nota da secretaria. Um dia antes, a empresa informou que iniciará nos próximos dias negociações com o sindicato dos metalúrgicos da região para definir a indenização aos funcionários da Troller, assim como fez com os trabalhadores de Camaçari e Taubaté.

 

Até a semana passada, havia boatos de que a Ford teria acertado a venda da fábrica, mas nem a empresa nem o governo confirmaram. A Ford disse que há interessados, mas não deu detalhes alegando confidencialidade.

 

As outras duas fábricas que produziam carros (Bahia) e motores (São Paulo) também estão à venda, mas não há informações de negociações com eventuais interessados. Desde o encerramento de atividades produtivas, a Ford passou ser importadora de modelos da marca.

 

A fábrica mais antiga do grupo no País, a de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, foi fechada em 2019 e adquirida por um grupo da área de construção civil que está construindo no local um grande centro logístico. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)