Certificação é desafio para “carro voador”

O Estado de S. Paulo/The New York Times

 

Com projetos avançados para colocar no ar EVTOLS (sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical, como é chamado oficialmente o futuro “carro voador”), startups que estão desenvolvendo esses veículos devem encontrar no processo de certificação com os órgãos reguladores suas maiores dificuldades, segundo especialistas da área.

 

Em relatório de maio, o Morgan Stanley afirmou que os obstáculos da certificação são provavelmente subestimados. Essa dificuldade fez o banco reduzir suas projeções de tamanho de mercado do “carro voador” para 2040. Antes, a estimativa era de que todos os segmentos criados pela nova tecnologia (táxi aéreo, transporte militar, logístico e por companhias aéreas) movimentariam US$ 1,5 trilhão em 2040. Agora, o banco espera que esse número fique em US$ 1 trilhão.

 

Essa mudança não reflete pessimismo com a aeronave, mas indica que a massificação do veículo deve demorar mais por conta das dificuldades na certificação. “Investidores podem estar subestimando significativamente o potencial comercial do EVTOL. (…) Será preciso paciência nos primeiros anos, pois os obstáculos de certificação da aeronave também são provavelmente subestimados”, diz o documento do banco.

 

Das quatro startups do segmento ouvidas pelo Estadão, duas (a inglesa Vertical e a alemã Lilium) apontaram que o processo de certificação será a maior dificuldade que elas enfrentarão nos próximos meses. Todas essas startups têm contratado profissionais que já participaram da certificação de aeronaves de companhias como Boeing e Airbus para, assim, adquirir a expertise de lidar com os reguladores. Parcerias com empresas com experiência na área também têm sido fechadas.

 

“O maior desafio para todos os fabricantes de EVTOL hoje é a certificação. O desafio não é provar que a tecnologia funciona. Temos a tecnologia. Operamos com a expectativa de que as autoridades regulatórias serão avessas a riscos e não sucumbirão à pressão para adotar tecnologias novas e não comprovadas”, disse, por e-mail, Michael Cervenka, presidente da inglesa Vertical Aerospace.

 

A startup de Cervena, por exemplo, trabalha com a Rolls Royce (fabricante de motores e turbinas para a aviação) e com a Honeywell (que produz, entre outros, sensores e produtos de navegação). “Combinar a experiência delas com nossa equipe de engenharia significa que acreditamos ter um caminho rápido e de baixo risco para a certificação.”

 

O diretor estratégico da Lilium, Alexander Asseily, destaca que todas as peças do EVTOL precisam ter o aval dos reguladores, por isso a vantagem de trabalhar com empresas que já fabricam componentes para aeronaves. A Lilium também tem parceria com a Honeywell.

 

De acordo com o centro de inovação da Lufthansa, os órgão regulatórios já estão estabelecendo o caminho para a certificação dos “carros voadores”, mas ainda não se sabe se as startups serão capazes de cumprir com as exigências. O relatório da companhia destaca também, entre os desafios, a necessidade de desenvolver sistemas de gerenciamento de tráfego aéreo escaláveis e de uma ampla rede 5G para a operação autônoma dos veículos, além da capacidade de produção em massa.

 

Para a consultoria Deloitte, um facilitador para colocar o EVTOL em operação seria um sistema que não só gerenciasse o tráfego dessas aeronaves como também o dos aviões que operam hoje. Um documento da consultoria aponta ainda que as tecnologias em si estão amadurecendo rápido, mas as do sistema de energia são um fator limitante. O problema aqui não é só a capacidade da bateria, mas também a velocidade para recarregá-la. O Morgan Stanley é outro a destacar os impasses com a bateria, que necessita de uma capacidade muito maior do que a dos carros elétricos.

 

Há startups, porém, que dizem não estar preocupadas com esses itens, mas, sim, com a aceitação do público. Conheça, abaixo, algumas das empresas que estão mais adiantadas no processo de conseguir uma solução para esses entraves. (O Estado de S. Paulo/Luciana Dyniewicz/The New York Times)