É necessário viabilizar a eletromobilidade no transporte

O Estado de S. Paulo

 

Muito se discute sobre o futuro da eletromobilidade no transporte rodoviário de carga. E, de fato, há vários aspectos relevantes para se debater sobre o tema. Ainda mais se forem levados em conta os desafios relacionados à infraestrutura necessária para atender a todas as necessidades do setor. Enquanto algumas importantes iniciativas não se concretizam, a indústria de veículos comerciais não está parada e tem se movimentado para cumprir as agendas de suas matrizes para desenvolver e introduzir modelos elétricos no mercado.

 

Para quem atua no setor, um dos maiores obstáculos é tornar esses veículos viáveis nas operações diárias nas ruas. Para Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), iniciativas semelhantes às da indústria de caminhões são importantes, pois criam oportunidades para que os governos possam investir na infraestrutura. Como a tecnologia ainda é cara, o transportador só irá investir se tiver certeza de que terá retorno financeiro.

 

De acordo com Maluf, ainda há poucas ações no País nesse sentido e as mais interessantes para o segmento de transporte de carga se concentram nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, que isentam caminhões elétricos dos respectivos rodízios municipais. Há ainda, no Estado de São Paulo, o desconto no IPVA a todos os modelos elétricos, incluindo automóveis, comerciais leves e caminhões. Mas o teto do valor do veículo que a lei atende é de até R$ 150.000. Ou seja, o carro elétrico mais barato do País, o JACE-JS (em pré-venda), que custa a partir de R$ 154.990, fica fora dessa isenção.

 

Dessa forma, para o negócio de transporte de carga, o rodízio se torna uma iniciativa bem mais atrativa para as empresas. Afinal, a produtividade do caminhão é o que traz eficiência ao negócio. Em razão disso, capitais como Curitiba, Porto Alegre, Salvador e Recife estudam copiar os modelos de São Paulo e do Rio de Janeiro.

 

Vamos ficar para trás 

 

Apesar de, em algumas rodovias dos Estados do Sul e do Sudeste, haver estações de recarga, o restante do País ainda é carente – o que pode dificultar ou mesmo atrasar a chegada dos caminhões elétricos a esses locais. Nesse sentido, a própria Volkswagen Caminhões e Ônibus informou que, neste primeiro momento, seu modelo elétrico será vendido apenas nas principais capitais, em que há infraestrutura de recarga. “Para o futuro, eu vejo a possibilidade de eletrificar as rodovias localizadas no interior do Brasil. Há oportunidade de abrir investimentos em geração distribuída por meio de usinas solares. E, assim, desenvolver a eletrificação, bem como a geração de energia, nessas localidades”, diz Maluf.

 

O presidente da ABVE comenta ainda que, por meio da associação, tenta sensibilizar o governo federal de que o Brasil está ficando para trás do resto do mundo em relação à política industrial dos veículos elétricos. “O Brasil não tem nenhuma política. A ausência de um plano nacional de eficiência energética é preocupante. Mesmo porque 2022 deve ser o ano da virada da eletromobilidade em diversos países da Europa e nos Estados Unidos. Esses governos desenvolvem metas desde 2010. No Brasil, tudo está moroso”, avalia Adalberto Maluf.

 

Mesmo com esse cenário, que aponta muitos desafios e obstáculos a serem superados, algumas fabricantes têm apostado na eletromobilidade. Uma delas é a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), que, após investimento de R$ 150 milhões, no final de junho, deu início à produção em série do e-delivery, o primeiro caminhão 100% elétrico desenvolvido no Brasil.

 

Trata-se de um veículo com peso bruto total (PBT) de 11 toneladas, com tração 4×2, ou seja, direcionado às operações de transporte urbanas, motor de 300 kw de potência (cerca de 400 cv) e desenvolve 219 mkgf de torque. O e-delivery poderá ter a opção de transmissão ou não. A escolha vai depender da capacidade do veículo e das condições em que ele vai rodar.

 

O caminhão será produzido em Resende (RJ), na mesma área de montagem de onde saem os demais modelos da empresa. De lá, o veículo elétrico é encaminhado a uma nova área dedicada à eletrificação, chamada e-shop, em que recebe baterias e é energizado, pela primeira vez, para ser ligado.

 

Inicialmente, serão produzidas quatro unidades por dia. De acordo com a empresa, a meta é chegar a dez caminhões diários, a partir de 2023. À medida que houver demanda, a produção pode crescer.

 

Marco da engenharia 

 

O e-delivery, da VWCO, representa um marco para a engenharia brasileira, por ser o primeiro pesado elétrico totalmente desenvolvido no País. Além disso, junto com ele, nasceu também um ecossistema denominado e-consórcio, que envolve empresas que produzem componentes para veículos elétricos, aliado à criação de uma infraestrutura para que o caminhão se torne viável comercialmente, levando em conta toda sua vida útil até o descarte.

 

O e-delivery também é resultado de uma parceria da VWCO com a Cervejaria Ambev. Dos 400.000 quilômetros de testes realizados no País com o veículo, 40.000 foram nas operações reais da cervejaria. Não por acaso, a empresa se comprometeu a comprar 1.600 unidades do primeiro caminhão 100% elétricos desenvolvido no Brasil.

 

O fato, claro, é relevante, mas é importante lembrar que o início da eletromobilidade no transporte de carga no Brasil ocorreu em 2018, quando a fabricante chinesa BYD desembarcou no País os primeiros caminhões elétricos. Na época, eram os modelos et8. A partir do segundo semestre deste ano, a fabricante trará também o et7 e o et018, um caminhão-trator para operações de curtas distâncias, já que sua autonomia deve chegar a cerca de 300 quilômetros.

 

Para solucionar esse problema, os futuros lançamentos da BYD terão carregadores mais modernos, capazes de completar 100% das baterias em apenas duas horas.

 

Oitavo lugar

 

Dois anos depois do pioneirismo da BYD, ou seja, em 2020, foi a vez do caminhão JAC IEV1200T chegar por aqui. Atualmente, o modelo é o primeiro elétrico a aparecer na oitava posição de vendas da categoria leve. Desde o seu lançamento, em outubro passado, foram mais de 100 unidades comercializadas.

 

Conheça, nos quadros ao lado, um pouco mais sobre os três modelos eletrificados à venda no País. (O Estado de S. Paulo/Andrea Ramos)