O Estado de S. Paulo
A melhor notícia da economia neste início da segunda metade do ano é a perspectiva de ainda maior avanço do PIB. Já não se conta mais com crescimento de apenas 5%. Um a um, analistas e instituições financeiras passaram a trabalhar com mais. Itaú Unibanco, Goldman Sachs, BNP Paribas, por exemplo, anunciaram estimativas de crescimento de 5,5%.
Pode não chegar a tanto, porque os riscos e o jogo contra não são desprezíveis – como se verá –, mas o mais importante é anotar que a percepção é de mais vigor. O Banco Central ainda espera 4,6% e a média do mercado aferida pela pesquisa Focus já registra 5,05%, bem mais do que os 3,14% verificados em abril.
Não se pode atribuir esse gol a apenas um atacante. Um punhado de fatores concorre para esse mais provável resultado positivo. O mais importante deles são os progressos na imunização da população. Os vacinados em pelo menos uma dose já são 74 milhões e há 17 milhões de recuperados. Ou seja, ao menos 91 milhões entre os mais de 211 milhões de brasileiros carregam anticorpos contra a covid-19. São números que abrem mais perspectivas para a retomada, especialmente na área de serviços, a mais atingida pelo isolamento social e pelo fechamento de portas.
As condições do mercado internacional também ajudam. Os Tesouros e os bancos centrais dos países líderes emitiram uma abundância nunca vista de recursos destinados a dar força para a economia. O momento continua sendo de aumento dos preços das commodities, a começar pelos do petróleo, o que reflete a força da demanda, seja para o consumo, seja para a recomposição dos estoques. Esta é a principal razão do excelente desempenho das exportações do Brasil, que, em junho, somaram US$ 28,1 bilhões, crescimento de 60,8% ante junho de 2020, e, com estas, das contas externas, o que também explica a valorização do real diante do dólar.
Efeito colateral positivo desses fatores é a melhora relativa das contas públicas. Com base no avanço do PIB, a arrecadação voltou a crescer. Como o desempenho do PIB vem pesando cada vez mais, a dívida pública em relação à renda (Dívida/PIB) está em queda. Essa melhora da situação fiscal vem ajudando a baixar também a percepção do risco dos títulos do Tesouro Nacional. No fim de março, o investidor internacional vinha pedindo um adicional de 2,25 pontos porcentuais ao ano para ficar com os títulos de 5 anos e agora já se contenta com 1,6 ponto porcentual.
Mas ninguém se iluda, não dá para contar com céu de brigadeiro por toda esta segunda metade do ano. Uma das nuvens mais pesadas está na área política. O enfraquecimento relativo do presidente Bolsonaro joga o País nas mãos do Centrão e, aí, as incertezas já enormes tenderão a crescer à medida que se intensificar o jogo eleitoral.
Na área econômica, a crise hídrica não ameaça apenas com forte aumento das tarifas, mas, também, com racionamento de energia elétrica, quebra de safras das culturas de meio de ano (como de milho safrinha, café e cana-de-açúcar). Essas coisas juntas podem manter a inflação em níveis mais altos do que os esperados e exigir redução do volume de moeda pelo Banco Central (juros ainda mais altos).
Mesmo com resultados mais alentadores na área de contratação de mão de obra, como mostraram os números do Caged divulgados nesta quinta-feira, não se vê forte redução do desemprego, que atingia 14,7 milhões no trimestre encerrado em abril, porque os empregadores parecem ter aprendido a produzir o mesmo com mais tecnologia e menos contratação de pessoal. Este é fator que deverá manter o consumo relativamente encolhido.
E há a incógnita sanitária ainda não equacionada. Não há indicações seguras sobre os estragos que poderão ser causados pelas novas cepas do coronavírus, especialmente as da variante Delta, originária da Índia, que agora se espalha com rapidez.
No mais, não é apenas lamentável a falta de sentido de urgência que o governo e o Congresso vêm dando para os projetos de reforma. Trata-se de um fator que também vai impedir a recuperação da atividade econômica.
Mas o balanção geral é o de que, apesar dos pesares, a situação está melhor do que a esperada há dois meses. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming, comentarista de economia)