Prévia da inflação em junho tem alta de 0,83%

O Estado de S. Paulo

 

O encarecimento da gasolina e da energia elétrica impulsionou a prévia da inflação oficial no País em junho. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) acelerou a 0,83%, informou, ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Embora não tenha surpreendido, o resultado indica um cenário inflacionário ainda desconfortável, avaliam economistas. O IPCA-15 acumulado em 12 meses subiu para 8,13% em junho, o resultado mais elevado desde outubro de 2016.

 

“Quando saírem da conta esses fatores pontuais, a tendência é que se tenha uma inflação na margem mais tranquila. Mas o quadro geral é de uma inflação que preocupa, que deve ficar longe do centro da meta em 2021 (3,75%) e colocar sob pressão as estimativas para 2022”, aponta a economista-chefe da Consulenza Investimentos, Helena Veronese.

 

A expectativa de um aumento nos preços de serviços com a abertura econômica e o avanço de vacinação também corrobora uma chance maior de que o Banco Central decida por uma elevação mais forte da taxa básica de juros, a Selic, em agosto, prevê Veronese.

 

“Esses números e os próximos que vão ser divulgados aumentam a chance de uma alta de 1 ponto da Selic”, opina a economista.

 

O banco ABC Brasil deve manter a aposta de aumento de 0,75 ponto na taxa de juros em agosto, para 5,0% ano, uma vez que já era esperada uma leitura mais desfavorável dos resultados do IPCA-15 de junho.

 

“Minha leitura é de que a inflação segue em níveis desconfortáveis”, diz o economista Daniel Lima, do Banco ABC Brasil.

 

Itens de maior pressão sobre a inflação de junho, a gasolina subiu 2,86%, enquanto a energia elétrica aumentou 3,85%. Juntos, responderam por mais de 40% da inflação do mês. No entanto, os aumentos foram disseminados por outros itens, uma vez que todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram avanços de preços em junho.

 

Bandeiras

 

A alta na energia elétrica foi impulsionada pelo acionamento da bandeira vermelha patamar 2 em junho, com acréscimo de R$ 6,243 a cada 100 kwh consumidos, após ter vigorado a bandeira vermelha patamar 1 em maio, que adicionava um valor menor na conta de luz. A taxa de água e esgoto e o gás encanado também ficaram mais caros. As famílias pagaram mais também pelo gás veicular (12,41%), etanol (9,12%) e óleo diesel (3,53%). Na direção oposta, as passagens aéreas caíram 5,63%, após já terem ficado 28,85% mais baratas no mês anterior.

 

Os gastos das famílias com a alimentação em domicílio tiveram avanço mais brando, de 0,15%, com recuo nos preços das frutas, batata-inglesa, cebola e arroz. Por outro lado, houve aumentos nas carnes, leite longa vida e alguns derivados.

 

Já a alimentação fora de casa subiu 1,08% em junho, impulsionada pela refeição e pelo lanche mais caros. Segundo o IBGE, as altas podem ser explicadas, em parte, pelos aumentos nos preços de proteínas, como carne e queijos, mas também pelo repasse da alta de custos como transporte e energia.

 

“A inflação de restaurantes surpreendeu, e está muito relacionada ao choque de alimentos do ano passado. Quando as coisas voltarem ao normal, existe o risco de os restaurantes fazerem um repasse ainda maior, e a sensação de alta em serviços surpreender”, avalia o economista Daniel Karp, do banco Santander Brasil. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Thaís Barcellos e Guilherme Bianchini)