Toyota não quer virar marca de carros elétricos, pelo menos não até 2050

Jornal do Carro 

 

Diferentemente de outras grandes montadoras, que já têm data para deixar de entregar carros a combustão, a Toyota parece indecisa sobre adotar veículos elétricos. Durante reunião com acionistas em sua sede em Nagoya, no Japão, a direção da montadora apontou que vai elevar de 55 para 70 o total de modelos eletrificados até 2025.

 

Também repetiu o compromisso de neutralizar suas emissões de carbono em todas as fábricas ao redor do mundo até 2030. Ao mesmo tempo, porém, afirmou que deve manter os carros com motores a combustão enquanto houver demanda. O que a marca acredita que irá perdurar até 2050.

 

“Algumas pessoas amam veículos elétricos a bateria, mas outras não veem as atuais tecnologias como convenientes”, afirmou Masahiko Maeda, diretor de tecnologia da Toyota. Em entrevista à agência “Bloomberg“, o executivo deixou claro: “O que importa é o que os clientes escolhem”.

 

Longo caminho até os elétricos

 

Esse receio da Toyota tem explicação, uma vez que a maior fabricante de automóveis do mundo tem tradição na entrega de modelos híbridos. A Toyota não tem o mesmo desempenho, porém, com elétricos.

 

Em 1997, a marca japonesa tornou-se a primeira montadora a fabricar um carro híbrido em larga escala, que se tornou referência em toda indústria. Assim, 24 anos depois do lançamento do Prius, a marca vai bem com seus derivados. A atual geração do “best seller” Corolla usa sistema híbrido no mundo todo e, no Brasil, ainda se vale de sistema híbrido flex.

 

Por outro lado, uma plataforma para carros elétricos da Toyota, a e-TNGA, só foi apresentada recentemente, no Salão do Automóvel de Xangai. É a partir dela que um primeiro modelo 100% elétrico a bateria, o SUV bZ4X, deve ganhar vida nos próximos anos.

 

Há ainda iniciativas como o Mirai, elétrico que obtém energia de reações químicas da quebra de hidrogênio, mas com um sistema delicado e caro. Assim, é até compreensível que a marca japonesa não queira colocar todas as fichas na mesma aposta. E que justifique isso usando a “escolha do consumidor”.

 

Aliás, essa retórica ganha força, sobretudo entre sistemistas, como a Bosch. Cada vez mais empresas apostam que cada região do mundo terá sistemas de propulsão de acordo com suas características.

 

Como ficam os carros elétricos no Brasil

 

O Brasil até importa modelos híbridos e elétricos, e as vendas desses veículos bate recordes. Por outro lado, os modelos disponíveis ainda são muito caros perante o poder de compra do público. Também há o risco de que o país fique relegado a segundo plano enquanto fabricante, ofertando apenas matéria-prima, não tecnologia.

 

Mas há planos para mudar esse panorama. Por exemplo, o etanol ganha força como alternativa a células de combustível e grandes baterias para elétricos. Tanto é assim, que é defendido por executivos como Pablo Di Si, CEO da Volkswagen na América Latina e no Brasil.

 

O etanol pode abastecer célula de combustível para facilitar a recarga de carros elétricos no Brasil, apontou Di Si, em evento no começo do ano.

 

“Não é importante só ter o carro elétrico, mas como abastecê-lo. Por que não usar o etanol? A tecnologia ainda não existe, entretanto temos o etanol, e com pesquisas, podemos desenvolver. Precisamos estudar como transformar o etanol e abastecer o carro elétrico”, afirmou Di Si.

 

Nissan avança no carro elétrico a etanol

 

Se o chefe da VW ainda teoriza sobre transformar o etanol em energia para carro elétrico, a Nissan já promete ter uma solução até 2030. Desde 2019, a montadora desenvolve o sistema que usa etanol para recarregar carros elétricos no Brasil. Essa pesquisa é feita em parceria com o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) da USP.

 

Airton Cousseau, presidente da Nissan Mercosul e diretor geral da Nissan do Brasil, afirmou que a pesquisa da fabricante com este tipo de tecnologia vai dar frutos comerciais em breve.

 

“A gente não desenvolveria a tecnologia se não acreditasse nesta solução”, afirmou Cousseau, em apresentação da segunda fase de pesquisa e desenvolvimento pela Nissan e pelo Ipen. Mais: a Nissan espera terminar as pesquisas até 2025, e quer ter um carro pronto, nas lojas, em menos de 10 anos.

 

Nissan busca etanol mais eficiente

 

A tecnologia da marca é capaz de converter o álcool combustível em hidrogênio. E depois transformá-lo em eletricidade por reação química. Todo o processo promete custar menos que veículos elétricos a hidrogênio, por abrir mão de tanques reforçados para combustível.

 

E também ser mais barata que os elétricos tradicionais, por não precisar de baterias imensas. Até então, o sistema rodou em protótipos de vans comerciais. Mas a ideia é reduzir tamanho e custo para poder equipar carros de passeio comuns.

 

Essa tecnologia serve não apenas para o Brasil, bem como para outros mercados que tenham etanol de cana ou de milho. Também atende a quem usa biogás e gás natural, como EUA e China. Assim, o Brasil pode se tornar exportador de tecnologia.

 

A Nissan também trabalha em outra linha de pesquisa. Está com a Unicamp, para desenvolvimento da chamada “cana de açúcar de segunda geração”. A variedade pode ser plantada em terrenos mais secos. E tem maior capacidade energética.

 

Dessa forma, a Nissan aponta que automóveis com tanque de etanol de 30 litros poderiam percorrer 600 km antes de recarregar, com emissão zero. (Jornal do Carro/Eugênio Augusto Brito)