PIB trimestral surpreende e previsão para ano chega a 5,5%

O Estado de S. Paulo 

 

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021, na comparação com os últimos três meses de 2020. O resultado foi puxado por atividades exportadoras, como agropecuária e indústria extrativa, e ficou acima das previsões do mercado, que estimava avanço em torno de 0,7%. Algumas instituições passaram a projetar alta de até 5,5% no fechamento do ano. O ministro Paulo Guedes (Economia) falou ontem em desbloqueio de recursos do Orçamento.

 

A Educação receberia cerca de R$ 900 milhões. A Bolsa de Valores alcançou 128,2 mil pontos, terceiro recorde consecutivo. Uma possível terceira onda de covid-19 no País e um eventual racionamento de energia, porém, são citados por analistas como os principais riscos para atividade econômica nos próximos meses. O consumo das famílias ficou estagnado, com queda de 0,1% ante o quarto trimestre. O crescimento entre janeiro e março fez com que o PIB brasileiro voltasse ao nível do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia, mas ainda está 3,1% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do País, alcançado em 2014.

 

Atividade produtiva

 

Economia avança 1,2% entre janeiro e março deste ano, ante o último trimestre de 2020, puxada principalmente pelas exportações da agropecuária e da indústria extrativa; terceira onda da covid e racionamento de energia ainda são vistos como riscos

 

Puxado por atividades exportadoras, como a agropecuária e a indústria extrativa, o Produto Interno Bruto (PIB, valor de tudo que é produzido na economia) cresceu 1,2% no primeiro trimestre do ano, na comparação com os últimos três meses de 2020. Divulgado ontem pelo IBGE, o resultado ficou acima das previsões do mercado – que estimava avanço em torno de 0,7% – e levou algumas instituições a projetar alta de até 5,5% no fechamento do ano. Ainda assim, uma terceira onda de covid-19 no País e um eventual racionamento de energia são citados por analistas como os principais riscos para atividade.

 

Com o crescimento registrado entre janeiro e março, o PIB voltou ao patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia. Mas ainda está 3,1% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do País – alcançado no primeiro trimestre de 2014.

 

O resultado foi visto pelo governo como um sinal de acerto da política econômica, e levou o ministro Paulo Guedes a falar em desbloqueio de recursos do Orçamento (mais informações na pág. B5). Já a Bolsa de Valores bateu ontem o terceiro recorde consecutivo, ao alcançar 128,2 mil pontos, na expectativa de crescimento de receita das empresas.

 

Uma pesquisa do Projeções Broadcast com 22 instituições indicou melhora também nas estimativas para o PIB no ano. A mediana passou de 4,2%, em sondagem antes da divulgação dos dados oficiais, para 5,0%. As apostas oscilam agora entre 3,3% e 5,5%. Entre os mais otimistas, estão Goldman Sachs e BNP Paribas. Bradesco e Itaú Unibanco esperam 4,8% e 5,0%, respectivamente.

 

Ainda há riscos para a consolidação desse cenário de maior crescimento, como a própria evolução da pandemia e a dinâmica do mercado de trabalho e renda. Afetado pela elevada inflação de alimentos, pelo alto desemprego e pela ausência do auxílio emergencial – que só voltou a ser pago pelo governo federal em abril –, o consumo das famílias ficou estagnado, com ligeira queda de 0,1% ante o quarto trimestre.

 

Além disso, a crise hídrica ameaça tanto o crescimento econômico, por causa da oferta de eletricidade, quanto a inflação, com esperados reajustes na conta de luz. “E tanto uma piora da pandemia como o risco hidrológico afetam o (equilíbrio) fiscal, por pressão por mais gastos, com transferências ou subsídios”, diz a economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour.

 

Agropecuária

 

O crescimento do primeiro trimestre foi puxado pela agropecuária, que saltou 5,7% sobre o quarto trimestre de 2020, com destaque para a colheita da soja, e pelo PIB industrial, que avançou 0,7% na mesma base de comparação (com alta de 3,2% no segmento extrativo). Na ótica da demanda, esses setores puxaram a alta de 4,6% nos investimentos, embora esse avanço tenha sido artificialmente inflado por mudanças na tributação da indústria de petróleo e gás.

 

Mais afetados pela pandemia, os serviços, principal componente do PIB pela ótica da oferta, cresceram 0,4% na comparação com o quarto trimestre de 2020, ainda demonstrando lentidão na retomada. Na comparação com os três primeiros meses de 2020, apresentaram queda de 0,8%.

 

“O setor agrícola continuou superforte neste primeiro trimestre, e a indústria e os serviços estão aprendendo a se readequar. Olhando para segundo trimestre, os indicadores antecedentes também são favoráveis, com alta na confiança de quase tudo. E a mobilidade também não sentiu os lockdowns regionais de forma expressiva”, disse o economista Daniel Xavier, do Banco ABC Brasil.

 

No início da pandemia, as restrições ao contato levaram a uma paralisação inédita da produção, das vendas e dos serviços, derrubando a atividade econômica. Com o passar dos meses, o efeito da menor mobilidade sobre os indicadores econômicos caiu, diz um relatório da LCA Consultores, sugerindo que “as economias se adaptaram à pandemia”, com “uso intensivo de tecnologia, sistemas híbridos (presencial e virtual) de trabalho e ampliação do ecommerce”.

 

“Readequação”

 

“O setor agrícola continuou superforte neste primeiro trimestre, e a indústria e os serviços estão aprendendo a se readequar”, Daniel Xavier, economista do Banco ABC Brasil. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Vinicius Neder, Guilherme Bianchini e Thaís Barcellos)