Com avanço da covid, produção da indústria cai 2,4%

O Estado de S. Paulo

 

O recrudescimento da pandemia de covid-19 no País voltou a afetar o desempenho da indústria na passagem de fevereiro para março. A produção recuou 2,4%, após já ter registrado uma perda de 1,0% no mês anterior, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

“Tem relação direta com esse início de 2021 com menor ritmo da produção, tem uma associação bem clara com o recrudescimento da pandemia e todos os efeitos que isso traz para dentro do processo produtivo: maior restrição da mobilidade, maiores exigências sanitárias, falta de matérias-primas, desorganização da produção”, enumerou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

 

O pesquisador lembrou ainda que a indústria também é prejudicada por fatores conjunturais, como o desemprego elevado, a inflação pressionada e a ausência de pagamento do auxílio emergencial no primeiro trimestre deste ano.

 

Passado o choque inicial provocado pela covid-19 nos meses de março e abril, a indústria engatou um processo de recuperação ao longo de 2020, chegando a superar em 3,5% o patamar de produção do pré-pandemia. No entanto, após o retrocesso dos últimos dois meses, o parque fabril opera no mesmo nível de fevereiro de 2020.

 

“A piora do quadro sanitário do País e a ausência de medidas emergenciais no primeiro trimestre de 2021 fizeram com que a indústria pisasse no freio”, escreveu o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “Com isso, ficou comprometido tudo aquilo que vinha sendo conquistado em termos de retomada da produção”, completou.

 

Setores

 

Na passagem de fevereiro para março, 15 dos 26 setores investigados registraram retração. O destaque foi o tombo de 8,4% no setor de veículos automotores, terceiro resultado negativo seguido, período em que acumulou perda de 15,8%.

 

A escassez de peças e equipamentos chegou a paralisar algumas fábricas, apontou o economista-chefe da Sulamérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. Para o economista, o desempenho da produção industrial está de acordo com a avaliação que o Banco Central tem feito da atividade econômica, de que a retomada vem avançando, mas que a incerteza permanece elevada diante dos efeitos da pandemia.

 

“A pandemia acaba fazendo com que a recuperação não seja tão consistente. Os dados de janeiro e fevereiro foram bem positivos, mas o recrudescimento da pandemia a partir de março traz incerteza”, alertou Camargo Rosa.

 

O economista Daniel Silva, da Novus Capital, pondera que as medidas restritivas anticovid adotadas este ano tiveram duração e impactos menores do que no pior momento do ano passado. “Quando se compara com o que aconteceu no segundo trimestre de 2020, as medidas restritivas tiveram um efeito menor sobre a atividade e também parece que o impacto teve duração menor, com retomada mais rápida.”

 

A produção industrial teve um avanço de 10,5% em março de 2021 em relação a março de 2020, com expansão em 20 dos 26 ramos pesquisados. O resultado foi o mais elevado desde junho de 2010, além de ser a sétima taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação.

 

“Os resultados são amplamente positivos, mas em função da base de comparação”, esclareceu André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Thaís Barcellos)