O Estado de S. Paulo
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou variação de 0,93% em março, a maior para o período desde 2015. A taxa reforçou no mercado receios de que a inflação este ano fique acima do teto da meta, que é de 5,25%.
Pressionado pelo reajuste dos preços dos combustíveis, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou variação de 0,93% em março, a maior para o período desde 2015. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses passou de 5,20%, em fevereiro, para 6,10% no mês passado, reforçando no mercado o temor de que a inflação oficial do País termine o ano acima do teto da meta – que é de 5,25%.
“A chance de a inflação ficar acima dos 4,5% este ano é uma certeza. Uma inflação entre 5% e 6% me parecem hoje que é a previsão mais clara e uma média de 0,40% (mensal até o fim do ano) é razoável. Se o câmbio atrapalhar, pode ficar mais perto de 6%”, alertou Luiz Roberto Cunha, professor do Departamento de Economia e decano do Centro de Ciências Sociais na PUCRIO, que espera um pico de 8,1% no IPCA em 12 meses até agosto.
Analista da Coordenação de Índices de Preços do IBGE, André Almeida lembra que a última vez que o acumulado em 12 meses ultrapassou o teto da meta foi em novembro de 2016. “O teto era de 6,5% e, em novembro daquele ano, o acumulado em 12 meses chegou a 6,99%.”
O economista do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, frisa que a inflação geral não está fora de controle, mas que a dinâmica recente, que inclui o forte aumento dos combustíveis, exige atenção. “Em nossa avaliação, neste estágio, o principal risco de alta para a inflação é financeiro e de custos, e não de demanda”, disse ele, alertando para os riscos políticos e fiscais com potencial para afetar o câmbio e expectativa de inflação.
A meta central definida pelo Conselho Monetáro Nacional (CMN) para 2021 é de 3,75%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,25% e o superior, de 5,25%. Se a meta for descumprida, o Banco Central tem de apresentar uma justificativa ao Ministério da Economia para o resultado.
Variação
Pelos dados divulgados ontem pelo IBGE, os gastos com combustíveis subiram 11,23% em março. Só a gasolina variou 11,26%, respondendo por quase dois terços da taxa de inflação. Também ficaram mais altos os preços do etanol (12,59%) e do óleo diesel (9,05%). Em 10 meses de aumentos consecutivos, a gasolina foi reajustada em 42,39%. Já o gás de botijão subiu 4,98%, acumulando um aumento de 20,01% nos últimos 12 meses. Apesar de mantida a bandeira tarifária amarela, a energia elétrica ficou 0,76% mais cara em março, em decorrência de reajustes nas tarifas de concessionárias no Rio de Janeiro.
Por outro lado, os alimentos registram menor variação. A falta de pagamento do auxílio emergencial (que só foi retomado neste mês) e o recrudescimento da pandemia podem estar por trás de uma redução na demanda por itens alimentícios, com reflexo sobre os preços, acredita Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
“Pode ser que tenha a ver com auxílio emergencial, sim, a gente não teve auxílio no primeiro trimestre. E, por conta de questões de lockdown, pode ter a ver com demanda reprimida. As pessoas compram menos alimentos perecíveis nesse período”, justificou Kislanov.
No entanto, as condições climáticas favoráveis e a sazonalidade das lavouras também contribuíram para uma oferta maior de alimentos.
O custo da alimentação no domicílio caiu 0,17% em março, com recuos nos preços do tomate, batata-inglesa, arroz e leite longa vida. As carnes ficaram mais caras. Já a alimentação fora do domicílio subiu 0,89% em março, puxada pelas altas do lanche e da cerveja.
“O principal risco de alta para a inflação é financeiro e de custos, e não de demanda”, Alberto Ramos economista do Goldman Sachs para a América latina. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Maria Regina Silva)