O Estado de S. Paulo/Mobilidade
Diferentes montadoras anunciaram, nos últimos meses, que já estão oferecendo opções de locação a pessoas que não desejam mais pagar pela posse dos veículos. Mas, afinal, essa é uma notícia positiva? Sim e não.
Tento explicar. Existem mais de 50 milhões de pessoas no País que possuem cartão de crédito – e todo portador de cartão é um potencial usuário de locação de veículos, na medida em que essa é a principal forma de pagamento de locação de carros. Isso mostra que há, no Brasil, um grande potencial de mercado para que mais pessoas possam usar o aluguel de carros, pagando tarifas diárias ou se beneficiando de assinaturas mensais.
Com isso, quero dizer que, sim, há mercado para todos. A anunciada entrada das montadoras na oferta direta de automóveis alugados ao consumidor final não é, portanto, novidade que possa vir a acabar com as locadoras no Brasil.
Risco à sustentabilidade
No entanto, é preocupante a possibilidade de um desvirtuamento da sustentabilidade do negócio, caso as montadoras, como novos players da locação, deem início a uma espiral de redução do valor médio das tarifas de aluguel. Se forem estabelecidas diárias muito abaixo da média como estratégia para ganhar mercado rapidamente, até o usuário sairá perdendo.
Isso porque qualquer concorrência calcada em ‘guerra de preços’, em um primeiro momento, pode parecer boa aos clientes. Porém, no médio e no longo prazo, o estabelecimento de tarifas que não são suficientes para manter a saúde financeira das locadoras acaba provocando a queda de qualidade nos serviços prestados.
Concorrência acirrada
O cenário da evolução do aluguel de carros no Brasil é promissor, mesmo diante da concorrência cada vez mais acirrada, e de desafios que já sabemos que virão neste ano. Entre eles, a falta de carros novos para recomposição da frota das locadoras, o desastroso aumento da alíquota do IPVA no Estado de São Paulo, as responsabilidades jurídicas e a gestão da indústria de multas existente pelo Brasil.
Fato é que as locadoras já têm expertise na atividade de alugar carros, além da diversidade de modelos que podem ser alugados, inclusive, em plataformas virtuais e aplicativos. São automóveis confiáveis, confortáveis, com bom espaço interno, ar e som – ou seja, o pacote que a grande maioria dos usuários procura.
A mobilidade é o pano de fundo que envolve todas essas questões. O pagamento pelo uso em vez da posse é o que está movendo todas essas transformações. Temos certeza de que o papel das locadoras ficará cada vez mais claro nessa equação.
A mobilidade é o pano de fundo que envolve todas essas questões. O pagamento pelo uso em vez da posse é o que está movendo todas essas transformações. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Paulo Miguel Junior, presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis – Abla)