Fernando de Noronha pode ser nossa primeira smart island

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

Falar de cidades inteligentes, ou smart cities, não é mais novidade. Aliás, exemplos bem-sucedidos no mundo têm inspirado muitas cidades brasileiras. Exemplo recente foi o lançamento da Carta Brasileira Cidades Inteligentes, documento de iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Regional realizado a muitas mãos e lançado no final do ano passado durante o Smart City Session 2020, evento que aparece entre os mais relevantes do nosso País nesse segmento.

 

O conceito smart island, ou ilha inteligente, é fundamentado nos pilares das cidades inteligentes; porém, é importante considerar que as ilhas possuem suas próprias vulnerabilidades e peculiaridades por causa de seu tamanho, distância, dependência energética de combustíveis fósseis, altos custos de transporte, diversificação econômica limitada, sem contar os desafios ambientais.

 

Experimento social

 

No entanto, e exatamente por essas peculiaridades, vejo uma ilha como uma ótima oportunidade de se tornar um laboratório vivo para inovação tecnológica, social, ambiental e econômica.

 

Já temos alguns exemplos de sucesso pelo mundo. Em Portugal, a ilha de Porto Santo está prestes a se tornar uma smart island 100% livre de combustíveis fósseis. Iniciativas ligadas a geração e armazenamento de energia renovável, veículos 100% elétricos e conectados, eletropostos inteligentes que entregam energia, mas também devolvem à rede, trazendo oportunidades e novos modelos de negócio à região.

 

Território com carbono zero 

 

Aqui no Brasil, a pouco mais de 500 quilômetros da costa brasileira está a ilha de Fernando de Noronha, patrimônio natural, determinada a se tornar o primeiro território carbono zero do Brasil. A mobilidade e seu ecossistema têm um peso importante no cumprimento dessa meta.

 

Nessa direção, no ano passado, foi sancionado o Decreto-lei no 16.810/20, que regulamenta a entrada e a circulação de carros a combustão na ilha: a partir de 2022 estará proibida a entrada de automóvel convencional no arquipélago e, a partir de 2030, a frota existente deverá ser apenas de veículos elétricos.

 

Além do decreto e do programa Carbono Zero, empresas e instituições têm se mobilizado. Um dos primeiros passos da companhia de energia Celpe em 2015 foi a compra de um Renault Kangoo ZE l00% elétrico, como parte do projeto de estudos de inovação e sustentabilidade da ilha, iniciativa que responde a 10 dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU.

 

Em 2019, a Renault, líder de vendas de VE no Brasil e na Europa, ampliou a iniciativa e, em parceria com a administração da ilha, cedeu seis veículos 100% elétricos a serviços de apoio à população. Em março passado, a Renault se uniu a importantes parceiros, WEG e a Polo Engenharia, para lançar garagens públicas com geração solar (carport), equipadas com estações de recarga semirrápidas que carregam seis carros ao mesmo tempo. O excedente de energia das garagens solares será direcionado ao consumo da população local.

 

Enfim, essas são iniciativas importantes que merecem ser comemoradas, mas sabemos que ainda há muito a ser feito. A aliança do setor privado, governos, sociedade civil e instituições de pesquisa, somando-se a esse ecossistema único, a um capital social significativo e à mentalidade empreendedora, demonstra que Noronha tem todas as condições para se tornar a primeira ilha inteligente brasileira. E, com isso, inspirar outras áreas insulares e continentais.

 

É claro que ter um título é importante, mas o verdadeiro valor está em proporcionar qualidade de vida às pessoas e assegurar que elas estejam no centro dessa solução inteligente, sustentável e inclusiva.

 

“Em março, foram lançadas as primeiras estações de recargas semirrápidas, equipadas com painéis solares que carregam seis carros ao mesmo tempo”, Silvia Barcik, especialista em mobilidade sustentável e diretora da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). (O Estado de S. Paulo/Mobilidade)