Mulheres na indústria automotiva: cargos de liderança aumentam, mas caminho para equidade ainda é longo

Jornal do Carro

 

Ainda em quantidade muito menor do que a masculina, a presença de mulheres no setor automotivo vem ganhando destaque. Pautas como feminismo, igualdade salarial e inserção feminina no mercado de trabalho vêm contribuindo positivamente para essa discussão.

 

Contudo, o caminho ainda é longo para enfim chegarmos a equidade de gênero em um setor que por mais de um século foi dominado por homens. Mas o crescimento da liderança feminina vem para, de uma vez por todas (e de forma tardia), deixar o apelido de “sexo frágil” no passado.

 

Foi em 2020 que Juliana Coelho, de 31 anos, assumiu o controle da fábrica da Jeep em Goiana (PE). Como plant manager, um cargo como “gerente geral” da planta, a pernambucana chegava a esta posição após sete anos trabalhando na empresa. Lá em 2013, Juliana começou como trainee. Na época, tinha acabado de completar sua graduação em Engenharia Química na Universidade Católica de Pernambuco.

 

Em sua jornada na montadora, a engenheira ingressou na Jeep quando ainda não havia o polo industrial em Goiana e a cultura automotiva da região era escassa. Com o passar do tempo, Juliana cresceu dentro da empresa e chegou a passar cinco meses nas fábricas da Itália e da Sérvia para aprender sobre o processo produtivo da fabricante.

 

Assim que voltou ao Brasil, já com a fábrica pronta, exerceu diversas funções de liderança. “(Atuei) como supervisora, gerente de um turno, então me tornei gerente de pintura da Jeep e depois fui para montagem final.” Nos últimos dois anos, a executiva trabalhou nas fábricas de Betim, de Goiana e em Córdoba, na Argentina.

 

Desde que entrou na Jeep, Juliana teve contato com uma forte presença feminina no local de trabalho. “Fui submetida a trabalhar com várias mulheres. Quando fiz treinamento na Itália, minha tutora era uma mulher. Essa experiência foi muito importante para mim. Tive referências de lideranças femininas. Hoje consigo ver como isso beneficiou todo o meu desenvolvimento”, afirma.

 

Ana Theresa Borsari é CEO da Peugeot há 6 anos

 

Falando sobre referências femininas, a primeira mulher a comandar operações comerciais de uma montadora no Brasil, Ana Theresa Borsari tornou-se Diretora Geral da Peugeot no país em 2015. Todavia, a história de Ana com a marca francesa é longa. Dedica-se a empresa desde 1995. Nesse ínterim, ocupou cargos de liderança em diversas frentes. Como atendimento ao consumidor, desenvolvimento de rede e marketing.

 

Advogada formada na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), ela também foi responsável pela fusão com a Citröen na Eslovênia. E e coordenou a operação da Peugeot no Sudoeste da França, onde a montadora conta com mais de 150 concessionários.

 

Entre uma das pessoas mais poderosas do mundo está Mary Barra. Assim como Juliana Coelho, a CEO da GM atua na montadora desde cedo. Mais especificamente, a então graduanda em engenharia elétrica pela Kettering University entrou na empresa como estagiária em 1980.

 

Posteriormente, Barra cresceu dentro da empresa e desempenhou diversos cargos administrativos e voltados à engenharia. No entanto, foi em 2013 que a executiva assumiu o posto de CEO e presidente da General Motors. Dessa forma, se tornou a primeira mulher ocupar tal posição.

 

Com o intuito de ter mais mulheres em posições de liderança, Juliana acredita que as empresas precisam firmar um compromisso com essa causa.

 

Dessa maneira, ela defende que essas pautas são importantes não somente por serem éticas. Mas sim pelo entendimento de que a diversidade engaja as pessoas, melhora o ambiente de trabalho e faz surgir novas ideias. “Não é só sobre ser diverso. É também sobre ser inclusivo.”

 

Marília Mchado dos Santos Volkswagen mulheres

 

Do mesmo modo que a Peugeot, Jeep e GM, a Volkswagen escolheu Marília Machado dos Santos para o cargo de Diretora Geral da VW em Portugal. Assim, ela terá a função de consolidar a marca no país e gerir a parceria com concessionárias.

 

Licenciada em matemática, atua no setor automobilístico desde 2002. E teve passagens pelas montadoras Citröen e Fiat, na qual se especializou em marketing de produto. Na primeira, onde trabalhava desde 2019, foi responsável por gerenciamento de marca.

 

História antiga entre mulheres e a indústria automotiva

 

A tendência observada em diversos lugares do mundo remete ao surgimento do mercado automotivo. Empreitada guiada por visionários, como por exemplo, Bertha Benz, primeira pessoa a atuar como piloto de teste na história.

 

Ela auxiliou o marido, Carl Benz, na criação do primeiro automóvel patenteado, o Patent-Motorwagen. No qual viajou de Mannheim, onde vivia, até Pforzheim, sua cidade natal.

 

Bertha Benz

 

Fez o percurso de 104 km, em 1888, acompanhada de dois filhos, Richard, de 14 anos, e Eugen, de 15. O feito ficou marcado como a primeira viagem longa da história e serviu como prova da funcionalidade do produto. Que havia sido lançado dois anos antes.

 

A experiência fez com que os serviços da oficina de Carl Benz fossem mais requisitados. E possibilitou reparos em problemas do carro, expostos pelas adversidades encontradas por Bertha e os filhos ao longo do trajeto.

 

Perseverança para alcançar objetivos

 

Mesmo com alguns exemplos de lideranças femininas, é claro que o caminho para mulher neste setor ainda possui mais obstáculos. Por isso, Juliana garante que é preciso “ter um sonho e saber onde quer chegar”. E reitera que esse trajeto “não será um mar de rosas. Ele é feito de determinação, dedicação, disciplina e persistência. Precisa ter vontade, precisa ter um sonho e engajamento. Isso vai fazer não desistir”.

 

Nesse sentido, ela acredita que sua vontade de aprender, sua curiosidade e dedicação foram fundamentais em sua carreira na Jeep. “Precisamos ter a capacidade de tomar decisões sem medo de errar”. (Jornal do Carro)