Com falta de peças, produção das montadoras cai 3,5% em fevereiro

O Estado de S. Paulo

 

Com o ritmo reduzido pela falta de peças, a produção das montadoras caiu 3,5% no mês passado na comparação com o mesmo período de 2020. Entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus, 197 mil veículos foram montados em fevereiro, o volume mais baixo dos últimos sete meses.

 

O resultado divulgado na última sexta-feira, 5, pela Anfavea, a entidade que representa as montadoras instaladas no País, também corresponde ao pior fevereiro na atividade do setor desde 2016, quando a indústria automotiva produziu 144,3 mil veículos no segundo mês do ano.

 

Frente a janeiro, a produção caiu 1,3%, levando o volume acumulado no primeiro bimestre para 396,7 mil unidades, praticamente no mesmo nível (alta de 0,2%) dos dois primeiros meses do ano passado.

 

O desempenho reflete a dificuldade de abastecimento de peças nas linhas, agravada agora pela escassez global de componentes eletrônicos, junto com o fim da produção da Ford no País, anunciado em janeiro.

 

No mês passado, além da folga dada por diversas montadoras o carnaval, a falta de eletrônicos interrompeu entre os dias 5 e 12 a produção da Honda em Sumaré (SP) – parada que volta a acontecer no local nos dez primeiros dias de março. A Renault também perdeu três dias de produção no Paraná devido ao atraso de um navio que trazia peças da Ásia e não conseguiu janela para atracar no porto de Paranaguá (PR). A montadora pretende compensar futuramente.

 

A General Motors anunciou que, a partir do dia 8, vai suspender, em princípio por dois meses, um turno de trabalho na fábrica do Vale do Paraíba (SP) e colocar 600 trabalhadores em lay-off (suspensão temporária de contratos), por causa da falta de componentes. É a segunda fábrica do grupo a adotar a medida. O mesmo ocorrerá na unidade de Gravataí (RS).

 

“Vamos ter bastante emoção na produção até o fim do ano”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, acrescentando que, assim como acontece no mundo, a escassez de componentes eletrônicos seguirá afetando a oferta de modelos, como consequência o mercado, também no Brasil.

 

“A situação dos semicondutores é mais complexa. Não vemos soluções de curto prazo”, acrescentou o executivo. “Semicondutores é o que mais tira o sono das montadoras no Brasil e fora do Brasil.”

 

Tendo em vista o quadro de pandemia, que impede o funcionamento normal das fábricas, e a indisponibilidade de componentes – incluindo ainda aço, plástico e borracha -, além de dificuldades relacionadas ao desarranjo na logística, com alterações de rotas marítimas que geram atrasos de navios e insuficiência de contêineres, Moraes fez uma avaliação positiva da produção de fevereiro. “Apesar das dificuldades, estamos conseguindo produzir e atender o mercado”, afirmou.

 

Segundo ele, o risco de novas interrupções de produção na indústria de veículos é “permanente”, já que nem todos os fornecedores conseguem produzir na mesma velocidade.

 

Moraes afirmou ainda que, além da crise de oferta de produtos e desarranjo na logística, a pandemia causou desorganização dos preços relativos da economia, dada a valorização rápida das commodities, com pressão sobre custos. “Em algum momento, isso tem que ser repassado ao consumidor”, observou o representante da indústria de automóveis, após apresentar indicadores públicos que mostram, em um ano, aumento de 61% no preço do aço e de 68% de resinas.

 

Estoque baixo nos pátios

 

O estoque de veículos nos pátios de fábricas e concessionárias fechou fevereiro em nível baixo, suficiente para apenas 18 dias de venda, mesmo patamar do fim de janeiro.

 

Como faltam alguns modelos nas concessionárias, as vendas de fevereiro tiveram queda de 16,7% na comparação com o segundo mês de 2020, para 167,4 mil veículos. Foi o pior fevereiro em vendas desde 2018. Ante janeiro, a queda dos emplacamentos foi de 2,2%, informou a Anfavea, que começou o ano prevendo crescimento de 15% do mercado em 2021.

 

Nos dois primeiros meses do ano, as vendas de veículos tiveram queda de 14,2%, para 338,5 mil unidades na soma de todos os segmentos.

 

As exportações, um total de 33,1 mil veículos no mês passado, caíram 12,2% ante fevereiro de 2020. Na comparação com janeiro, os embarques, que têm a Argentina como principal destino, subiram 32%. Nos dois primeiros meses do ano, as montadoras exportaram 58,1 mil veículos, 0,2% a menos do que o total do primeiro bimestre do ano passado.

 

O levantamento da Anfavea mostra ainda a abertura de 1,3 mil vagas de trabalho nas montadoras em fevereiro, boa parte em contratações temporárias na indústria de caminhões. O setor fechou o mês empregando 104,7 mil pessoas, 1,2% a mais do que em janeiro.

 

Assim como já tinha ocorrido na divulgação do mês passado, a Anfavea segue sem apresentar os resultados das fábricas de tratores agrícolas e máquinas de construção. Em razão do desligamento da John Deere da associação, a entidade está revendo toda a série estatística deste setor. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna)