PIB cai 4,1% em 2020; País deixa grupo de 10 maiores economias

O Estado de S. Paulo

 

O Produto Interno Bruto (PIB) fechou o ano passado com queda de 4,1%. O resultado foi o terceiro pior desde 1901, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, atrás apenas das retrações de 1981, em meio à crise da dívida externa, e de 1990, ano do confisco das poupanças pelo governo Collor. A queda de 4,8% no PIB per capita foi a maior da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Indicadores recentes apontam que a economia, após uma retomada no final de 2020, desacelerou nos primeiros meses de 2021, com o agravamento da pandemia e o fim do auxílio emergencial, o que lança dúvidas sobre o ritmo da recuperação neste ano, dizem especialistas. O desempenho ruim confirmou a saída do País do grupo das dez maiores economias do mundo. O Brasil agora ocupa a 12.ª posição.

 

O Produto Interno Bruto (PIB, todo o valor gerado na economia) fechou o ano passado, marcado pela crise da covid-19, com queda de 4,1%, informou ontem o IBGE. Considerado o crescimento populacional, o PIB per capita caiu 4,8% em relação a 2019. Com a piora da pandemia e o fim do auxílio emergencial, extinto em janeiro, indicadores mais recentes mostram que a desaceleração continuou neste início de ano, o que lança dúvidas sobre o ritmo da recuperação.

 

O PIB divulgado ontem foi o terceiro pior desempenho anual numa série desde 1901, compilada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), atrás apenas da retração de 4,35% de 1990, ano do confisco das poupanças pelo governo Fernando Collor, e da queda de 4,25% de 1981, em meio à crise da dívida externa.

 

A queda de 4,8% no PIB per capita foi a maior da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. É a “tragédia maior” dos dados de ontem, porque sinaliza a piora na condição financeira dos brasileiros, disse o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio de Souza Leal.

 

No quarto trimestre, foi registrada alta de 3,2% ante o terceiro trimestre, resultado melhor do que o esperado – as estimativas captadas pelo Projeções Broadcast apontavam para alta de 2,8%. Isso dá um impulso adicional para 2021, mas foi insuficiente para desencadear revisões para cima nas expectativas. Pesquisa feita na tarde de ontem manteve a projeção de alta do PIB este ano em 3,3%, já considerando uma retração de 0,3% neste primeiro trimestre ante o quarto de 2020.

 

A pandemia segue no centro das atenções. Recordes sucessivos de mortos apontam para um endurecimento nas restrições ao contato social, como confirmado ontem em medidas do governo de São Paulo. A velocidade na vacinação da população ditará o ritmo da economia.

 

Abre e fecha

 

Helcio Takeda, economista da consultoria Pezco, lembrou que a dinâmica de “abre e fecha” do comércio poderá frustrar a retomada do mercado de trabalho, e o desemprego já se aproxima dos 14%.

 

Segundo economistas, a reedição do auxílio emergencial, em discussão no Congresso Nacional, ajudará a aliviar o choque da segunda onda da pandemia. As medidas definidas pelo governo federal e pelo Congresso, incluindo o auxílio, permitiram um desempenho melhor do que o esperado no PIB em 2020 – em meados do ano, as projeções chegaram a apontar para queda de até 9%. Só que, com o gasto limitado a cerca de R$ 40 bilhões, a segunda rodada da transferência emergencial de renda não deverá repetir o impacto dos quase R$ 300 bilhões injetados no ano passado.

 

“2020 é o ano que não terminou. O ano de 2021 é um ‘repeteco’, e agravado. Estamos vendo uma rebarba forte da pandemia, sem os instrumentos (para mitigar a crise), como o auxílio (emergencial), e com o desemprego e a inflação mais elevados. É um 2020 piorado”, afirmou o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.

 

Como esperado, pesou no resultado anual de 2020 o segundo trimestre, auge das medidas de restrição, com tombo de 9,2% ante os três primeiros meses do ano. A partir de meados do ano, as medidas de restrição começaram a ser relaxadas País afora. Só isso já foi suficiente para dar início à retomada, lembrou a economista-chefe da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro. É o que economistas chamam de “recuperação cíclica”, que fica ameaçada pela volta das restrições, diante do descontrole da pandemia.

 

A pandemia também desorganizou a economia de forma inédita. Normalmente, nas crises, o setor de serviços responde mais lentamente – cai menos na retração, cresce menos na retomada. Com bares, restaurantes, salões de beleza, cinemas e hotéis fechados ou com horários reduzidos, os serviços caíram 4,5% em 2020, pior desempenho da série iniciada em 1996.

 

Por outro lado, com as famílias mais em casa, o comércio eletrônico permitiu que o consumo de bens fosse mantido, ajudando a recuperação da indústria. Assim, o PIB industrial avançou 1,9% no quarto trimestre ante o terceiro, fechando 2020 com queda de 3,5% sobre 2019, menos do que a retração de 4,6% de 2016, em meio à recessão anterior.

 

Essa particularidade dificulta a retomada, porque o setor de serviços responde por 73% do PIB. Esse peso também se reflete no consumo, direcionado em sua maioria para os serviços. Mesmo com o impulso do auxílio emergencial, o consumo das famílias despencou 5,5% em 2020, também o pior desempenho pelo menos desde 1996.

 

“O ano de 2021 é um ‘repeteco’ de 2020, e agravado. Estamos vendo uma rebarba da pandemia, sem instrumentos (para mitigar a crise)”, Antônio Corrêa de Lacerda professor da PUC-SP. (O Estado de S. Paulo/Vinicius Neder e Daniela Amorim)