Desemprego bate recorde em 2020

O Estado de S. Paulo

 

A taxa média anual de desemprego saltou de 11,9% em 2019 para 13,5% em 2020. Os trabalhadores mais afetados foram os dos setores de comércio, serviços domésticos e alimentação.

 

Meses depois do choque inicial provocado na economia pela pandemia de covid-19, o mercado de trabalho permanece como um grande desafio para a recuperação da atividade econômica em 2021. Houve ligeira melhora na reta final de 2020, em linha com a tradicional geração de vagas temporárias para as festas de fim de ano, mas ainda insuficiente para absorver toda a população em busca de renda e oportunidade. A taxa de desemprego média anual saltou de 11,9% em 2019 para um ápice de 13,5% em 2020.

 

Os maiores baques foram em comércio (-1,702 milhão de vagas, em média), serviços domésticos (-1,198 milhão de trabalhadores) e alojamento e alimentação (-1,172 milhão). Todos os três setores bateram recordes de demissões. A indústria também demitiu em massa, alcançando quase um milhão de vagas extintas, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada desde 2012 pelo IBGE.

 

A taxa de desemprego encerrou o quarto trimestre aos 13,9%, pior resultado para o período desde o início da série histórica. Em relação à mesma época do ano anterior, foram perdidos 8,4 milhões de postos de trabalho. O País tem quase 14 milhões de desempregados. Se considerados todos os subutilizados, que incluem os desalentados e subempregados, está faltando trabalho para mais de 32 milhões de brasileiros.

 

Houve melhora, porém, ante a taxa de desemprego de 14,1% registrada no trimestre encerrado em novembro.

 

“A taxa divulgada hoje (ontem) é para ser celebrada diante dos números anteriores, mas o cenário ainda é complicado. Devemos ter uma recuperação extremamente lenta no primeiro semestre deste ano e no segundo semestre ainda estaremos às voltas com o processo de vacinação e o presidente (Jair Bolsonaro) totalmente focado na eleição de 2022”, projeta Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

 

“Para o início deste ano, a expectativa é de crescimento ainda moderado do ritmo e da qualidade da retomada do mercado de trabalho. Os limites estão associados à recente renovação das medidas de isolamento social, ao lento início da vacinação, e ao fim das políticas de incentivo fiscal e monetário às famílias e empresas. Como o mercado de trabalho deve ser insuficiente para absorver os atuais inativos, deve haver aumento da taxa de desocupados”, diz Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria Integrada.

 

A recuperação do mercado de trabalho demandará tempo e dependerá da evolução da pandemia do novo coronavírus, avalia Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.

 

A crise afetou de forma muito mais excessiva o mercado de trabalho informal, justificou Cimar Azeredo, diretor adjunto de Pesquisas do IBGE. O pesquisador lembra que houve redução importante no total de vagas com carteira assinada no setor privado, mas os primeiros trabalhadores a ficarem sem ocupação foram os que atuavam na informalidade, prejudicados pela pandemia. “Essa crise é uma tempestade, que acaba colocando para fora (do mercado de trabalho), ao contrário das outras crises, a informalidade. Agora estamos vendo o retorno da informalidade com reabertura de praia, das ruas.”

 

Efeito dominó

 

Luciana Luz, de 45 anos, trabalhava como babá há sete meses quando a OMS declarou a pandemia de covid-19, em março. No mês seguinte, os pais da criança, que trabalhavam fora de casa, adotaram o home office e precisaram fazer ajustes no orçamento. “Com isso, disseram que não podiam mais me pagar e fui dispensada.” Desde então, Luciana tem feito “bicos” como passadeira e faxineira para a irmã.

 

A empregada doméstica Dayana Pascoal, de 37 anos, perdeu o emprego há quase dois meses. Ela trabalhava na casa de um empresário, dono de restaurantes que fecharam durante a pandemia. “Ele não conseguiu reabrir porque os restaurantes tinham como clientela os funcionários de firmas e escritórios, que agora estão trabalhando em casa.”

 

O diretor do IBGE lembra que, passado o pior momento da crise, a recomposição do emprego perdido costuma se iniciar pelos postos informais, mas depois também há resgate do trabalho com carteira assinada. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Gregory Prudenciano)