O Estado de S. Paulo
Com a saída da Ford do Brasil, o governo vai concentrar o foco na requalificação dos trabalhadores que devem perder seu emprego, segundo o secretário de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Gustavo Ene. Ele afirma que as secretarias de Trabalho e de Políticas Públicas para o Emprego do Ministério da Economia já estão trabalhando para fazer o planejamento das medidas. Será feito um perfil de cada trabalhador para ajudar na realocação desses funcionários da Ford. “Nosso objetivo também é chamar o Sistema S, principalmente as federações das indústrias, para colaborar nesse processo de qualificação técnica”, diz ele. A seguir, os principais trechos da entrevista.
- O que pode ser feito?
Chamamos a Secretaria do Trabalho e a Secretaria da Política Pública do Emprego do Ministério da Economia para ajudar. Agora, vem um processo de desligamento, negociação da empresa com os sindicatos. E, a partir daí, acompanhar os resultados e buscar, primeiro, uma requalificação destes trabalhadores para que possam ser aproveitados em outras indústrias. As pessoas são muito focadas em fazer veículos, precisamos analisar e planejar alternativas de como elas se adaptarão para outros mercados. Nosso objetivo também é chamar o Sistema S, principalmente as federações das indústrias, para colaborar nesse processo de qualificação técnica. Conversaremos com as federações das indústrias de cada Estado. Já iniciamos contato com a do Ceará.
- Qual é a extensão dessa cadeia de trabalhadores?
Vamos precisar entender com a Ford qual o tamanho da redução dessa produção, desses sistemistas (fornecedores). Uma coisa é produzir diariamente para atender produção e mais reposição. É preciso entender o reflexo que terá na cadeia.
- Qual o diagnóstico do governo para a saída da Ford do País?
A Ford já vinha há alguns anos revendo os seus modelos de negócios, nos EUA e Europa. O Brasil era ainda um dos países em que se fazia sentido apostar em volume e carros populares. Porém, nos últimos anos, com os prejuízos acumulados devido à crise no setor automotivo que se iniciou em 2014, veio retomando aos poucos. Entrou a pandemia e, fora prejudicar os negócios no Brasil e mundo, causou um efeito negativo. E aí não é com a Ford, mas com todas as montadoras, muito atípico. As crises geralmente eram muito pontuais, sempre regionais. E, nesse caso, com a crise global, todas as matrizes, além de não ter caixa para as subsidiárias, tiverem a necessidade de recolher caixa.
- Como ficará o mercado?
Obviamente, o mercado se acomoda. Vai ter problemas de fornecimento de veículos? Não. Fiat, GM, Hyundai, Volks, entre outras, irão aproveitar o momento. Vão ter oportunidade de melhoria não prevista. GM anunciou investimento de R$ 10 bilhões, FCA, de R$ 5 bilhões, BMW, R$ 221 milhões, nos próximos 4, 5 anos, entre outros. Agora, o grande problema são os 5 mil empregos perdidos. Esse é o nosso principal foco. No mesmo dia em que recebemos a notícia, pelo CEO da companhia, montamos um grupo, temos um time automotivo, o Rota 2030. E começamos a articular com três empresas. Temos contato com todas as montadoras, logo vamos discutir todas as possibilidades sobre aproveitamento das plantas.
- Qual avançou?
Das três, eu diria que tem uma que já avançou em nível global na discussão. Não vou citar o nome de nenhuma empresa porque tem confidencialidade. São intenções.
- É difícil ter comprador?
Sabe por quê? É fábrica de 250 mil veículos por ano. É fabricão.
- A empresa pediu mais subsídios?
Toda a indústria automotiva sempre, como nos últimos governos, propôs essa alternativa, de subsídios. A Ford tomou a decisão de mudar a sua estrutura de negócio. Parar de fazer carros pequenos, de baixa rentabilidade. O que adianta mais subsídio? Precisamos acelerar as reformas e medidas que impactem diretamente nos custos de se fazer negócio no País para garantia dos atuais e novos investimentos e mais trabalho e renda por consequência. (O Estado de S. Paulo/Adriana Fernandes)