“Faltou à Ford dizer que queria subsídios”

O Estado de S. Paulo

 

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem a apoiadores que a Ford não disse o que, na sua opinião, seria o real motivo para a montadora fechar suas fábricas no Brasil. “Mas o que a Ford quer? Faltou à Ford dizer a verdade: querem subsídios. Vocês querem que continuemos dando R$ 20 bilhões para eles como fizemos nos últimos anos, dinheiro de vocês, impostos de vocês, para fabricar carro aqui?”, questionou.

 

Na sequência, ele próprio respondeu: “Não. Perdeu para a concorrência, lamento”.

 

O presidente, no entanto, não explicou se a montadora pediu novos subsídios para manter a operação no País. Fontes do Ministério da Economia afirmaram ao Estadão, sob a condição de anonimato, que a saída da empresa faz parte de um movimento global e não está relacionada à frustração de políticas de incentivo no País. Nem a empresa nem a Anfavea, associação que representa o setor, se pronunciou sobre as declarações do presidente.

 

Depois de mais de 100 anos produzindo no Brasil, a Ford anunciou na segunda-feira o fechamento das fábricas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE), mas a montadora segue com sua operação de vendas e assistência técnica no País, focando em produtos importados.

 

O anúncio acabou colocando em debate a concessão de bilhões de incentivos tributários para a indústria automobilística. Dados do Ministério da Economia apontam que os incentivos tributários para os fabricantes de automóveis atingiram R$ 43,7 bilhões entre 2010 e 2020.

 

Até 2017, os incentivos contabilizados – R$ 25,24 bilhões – correspondem à base efetiva apurada. Nos três anos seguintes (2018, 2019 e 2020), os dados são projeções.

 

Além dos incentivos dos tributos federais, as empresas contam com benefícios dados pelos Estados, que não entraram na conta do Ministério da Economia.

 

Bolsonaro rebateu as críticas de que seu governo não fez nada para manter a montadora no País e afirmou que a saída da empresa aconteceu porque a companhia “perdeu para a concorrência” e, “em um ambiente de negócios, quando não se tem lucro, se fecha”. “Assim é na vida e na nossa casa”, completou o presidente.

 

Mourão

 

Já o vice-presidente, Hamilton Mourão, disse que os argumentos da Ford para deixar de produzir carros no País foram “meio fracos” (a empresa fala em perdas significativas nos últimos anos no País, agravadas pela pandemia). Em conversa com jornalistas pela manhã, ele reconheceu as dificuldades enfrentadas pelo setor automobilístico, mas avaliou que o mercado brasileiro teria condições de se recuperar.

 

Mourão repetiu que a Ford ganhou “bastante dinheiro” no Brasil e, a exemplo de Bolsonaro, destacou que ela recebeu incentivos ao longo dos anos em que atuou no País. (O Estado de S. Paulo/Luci Ribeiro e Emilly Behnke)