Carros nacionais terão atraso tecnológico por causa da pandemia

Jornal do Carro

 

A Associação Nacional das Fabricantes de Veículos (Anfavea) foi parar no centro de um debate, após solicitar às autoridades brasileiras o adiamento das próximas fases do Proconve. Criado em 1986, o Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores estabelece metas de emissões de gases para carros, caminhões e ônibus.

 

O pedido da representante das montadoras recebeu críticas de organizações ambientais. E a Anfavea, então, convocou coletiva para dar explicações. Bem como para reafirmar o pedido para adiar etapas do Proconve. A associação alega que a pandemia da Covid-19 atrasou o desenvolvimento dos carros.

 

“Nós já expusemos aos órgãos competentes e ao Ministério Público Federal os nossos argumentos. Todos estão ligados aos efeitos sanitários da pandemia. Que afetou profundamente as nossas atividades de pesquisa e desenvolvimento”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.

 

Segundo Moraes, a Anfavea quer evitar um impasse em 2022. É quando entrarão em vigor as fases L7 (veículos leves) e P8 (veículos pesados), que serão bem mais rigorosas. “Nossos profissionais não estão imunes ao coronavírus. Por isso este apelo ao bom senso”, completou.

 

Esse é o valor do investimento necessário para as montadoras cumprirem as metas do Proconve. Entretanto, as empresas terão uma perda de caixa neste ano calculada entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões.

 

Essa falta de liquidez é uma sinalização das montadoras para que as autoridades acatem o pedido. Contudo, ministros e autoridades do governo não manifestaram apoio à indústria de carros até o momento.

 

Sem tempo hábil

 

Para o diretor técnico da Anfavea, Henry Joseph Jr., não se trata só da questão financeira. Não há tempo hábil para concluir os processos. “É preciso entender que tudo parou com a pandemia”, afirmou.

 

De acordo com o Joseph Jr., alguns sistemas que serão vitais para os carros cumprirem as metas de emissões exigem testes de milhões de quilômetros. E sem essas tecnologias, diversos veículos produzidos no país correm o risco de não poderem ser homologados.

 

“Fomos obrigados a parar. Por isso, alguns ensaios foram abandonados no meio e precisarão ser refeitos. Os laboratórios foram fechados. Os engenheiros não podem rodar com os carros. Essas condições atrasaram todo o desenvolvimento. E, dessa forma, não é mais possível cumprir o prazo estipulado”, confirmou o diretor da Anfavea.

 

Adiar por quanto tempo?

 

O cronograma oficial das fases L7 e P8 do Proconve está publicado em 2018 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O órgão do Ministério do Meio Ambiente é o responsável por estabelecer as normas ambientais.

 

Por enquanto, a Anfavea não falou em prazo. Apenas sugeriu, de maneira informal, adiar por dois ou três anos, o que jogaria as metas para 2025.

 

“Temos recebido uma série de questionamentos e até críticas. O nosso objetivo é cumprir o que está na resolução, tal como fazemos desde que o Proconve surgiu. Não temos nada a esconder, pelo contrário. Temos orgulho de nossas contribuições para a melhoria da qualidade do ar. E estamos nos preparando para dar mais um salto nesse sentido”, disse Luiz Carlos Moraes.

 

Controle de estabilidade vai atrasar

 

Em outra frente, a Anfavea já aprovou com ministérios e órgãos reguladores o adiamento da obrigatoriedade do controle de estabilidade (ESC) nos carros nacionais. O motivo são os prejuízos bilionários decorrentes da pandemia. A impressão que fica é a de que os veículos produzidos no país terão, portanto, um atraso tecnológico. (Jornal do Carro)