O Estado de S. Paulo
Os indicadores de emprego oferecem poucas perspectivas promissoras para os trabalhadores. Pesquisas recentes da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontam para leve melhora das contratações, mas isso ocorre conjunturalmente, pois o futuro é incerto. São dados menos ruins do que os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas revelam que falta muito para que se retorne à situação anterior à da pandemia de covid-19.
Segundo o Indicador Antecedente de Emprego (IAE) do Ibre/FGV, houve pequeno avanço de 2,9 pontos entre setembro e outubro, para 84,9 pontos, mas o número ainda é inferior à marca de 100 pontos que separam os campos positivo e negativo. Divulgado simultaneamente ao IAE, o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD) ficou estável em 96,4 pontos pelo terceiro mês consecutivo, sendo melhor para as famílias mais ricas.
Baseado em séries de dados dos setores da indústria e de serviços e das sondagens do consumidor, os resultados do IAE de outubro confirmam um cenário de recuperação do mercado de trabalho. Mas, como nota o economista Rodolpho Tobler, do Ibre/FGV, “a melhora tem sido mais tímida com o passar dos meses e o nível atual ainda se encontra consideravelmente abaixo do período pré pandemia”. Ou seja, a incerteza ainda elevada “e a proximidade do período final de ajuda do governo parecem contribuir para maior cautela dos empresários”, enfatiza Tobler.
Entre os sete componentes do IAE, quatro registraram alta em outubro, com destaque para a situação atual de negócios da indústria, que subiu 18,5 pontos, para 139,1 pontos. Na mesma base de comparação, houve queda nos indicadores de tendência de negócios e de emprego previsto em serviços.
Embora a indústria ofereça emprego de melhor qualidade, qualquer recuperação mais forte passa pelo setor de serviços, que é o maior empregador.
A dependência do auxílio emergencial para a manutenção de um nível razoável de atividade e de emprego, como foi notado pela FGV, parece ser o fator de maior incerteza quanto ao ritmo de recuperação da economia em 2021. E não há como prever soluções fáceis para o problema, haja vista as implicações fiscais e políticas, agravadas pelo temor quanto às tendências populistas do presidente Bolsonaro. (O Estado de S. Paulo)