Contraste entre demissões e horas extras reflete cautela das montadoras

AutoIndústria

 

Com produção e vendas em alta, as montadoras seguem demitindo ao mesmo tempo em que contratam em regime temporário e realizam horas extras para dar conta de atender a atual demanda do mercado, que em outubro cresceu 3,5% sobre setembro.

 

O contraponto entre essas medidas reflete, de um lado, a falta de matéria-prima, principalmente o aço, e de outro uma grande cautela quanto à garantia de continuidade do atual crescimento das vendas.

 

Ao divulgar os números de outubro nesta sexta-feira, 6, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, falou dos desafios e das ações das montadoras neste momento de retomada após o período crítico da pandemia.

 

A produção em outubro foi de 236.468 veículos, expansão de 7,4% sobre setembro, mas queda de 18% em relação ao mesmo mês de 2019. No acumulado dos dez meses, o recuo é de 38,5%, bem próximo à projeção de queda de 35% em 2020.

 

“A indústria tem se esforçado para atender ao crescimento da demanda em alguns segmentos do mercado, mas temos muitos desafios para atingir uma recuperação mais vigorosa, como os novos protocolos das fábricas, a dificuldade de planejar o médio prazo, a alta dos custos e, recentemente, a falta de alguns insumos, em especial o aço”.

 

Em um ano, o setor fechou 6,3 mil postos de trabalho, contando hoje com 121,4 mil funcionários. De fevereiro para cá, o quadro foi reduzido em 4,6 mil vagas. De setembro para outubro, foram demitidos 1.492 trabalhadores e contratados outros 592, com um gap de 900.

 

“A maioria das contrações é via contrato por prazo determinado”, informa Moraes, admitindo que o atual momento é de cautela. Não esta claro, ainda, se o mercado manterá o atual ritmo de crescimento – foram 215 mil emplacamentos em outubro – ou se a demanda reprimida do segundo trimestre é a responsável pelo momento positivo em vendas.

 

Por isso a opção por horas extras aos sábados e contratações por tempo determinado. O presidente da Anfavea admite que tem havido microparadas nos fornecedores e também nas montadoras por conta principalmente da falta de aço, que teve reajuste médio de preço de 43% este ano.

 

Os estoques nas montadoras e nas concessionárias equivalem a apenas 18 dias de produção, com cerca de 132 mil unidades, o que tem gerado falta de alguns modelos nas redes, conforme admite a Fenabrave.

 

Moraes, destaca, no entanto, que para adotar o terceiro turno as montadoras têm de ter certeza de que o crescimento das vendas se manterá robusto a partir de agora. “As montadoras estão operando em um turno ou dois em alguns casos, mais por conta das medidas de distanciamento social do que outra coisa”. (AutoIndústria/Alzira Rodrigues)