FMI revê queda do PIB do Brasil para 5,8%

O Estado de S. Paulo

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) melhorou a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para 2020 e passou a ver uma queda de 5,8% ante a retração de 9,1% estimada em junho, aponta o documento Perspectiva Econômica Mundial, divulgado ontem, com o título “Uma longa e difícil ascensão”. Para 2021, o FMI reduziu a previsão de crescimento do País de 3,6% para 2,8%. No longo prazo, o FMI destaca que o Produto Interno Bruto (PIB) avançará 2,2% em 2025.

 

A estimativa para o PIB mundial também melhorou, passando de queda de 5,2% para recuo de 4,4%. A revisão, segundo o Fundo, se deve à melhora do nível de atividade global no segundo trimestre, sobretudo em economias avançadas, apoiada em grande parte por medidas fiscais e monetárias extraordinárias para combater a pandemia do coronavírus.

 

Para o próximo ano, o FMI projeta que o indicador global avançará 5,2%, pouco abaixo dos 5,4% previstos em junho.

 

A economista-chefe do Fundo, Gita Gopinath, disse que a instituição fez uma melhor projeção para o PIB do Brasil para este ano “com a recuperação pouco mais rápida depois do fechamento da economia e o apoio de medidas fiscais.” “A projeção para o próximo ano baixou pelos limites de gastos públicos”, afirmou durante entrevista.

 

Gian Maria Milesi-ferretti, diretor adjunto do departamento de pesquisa do FMI, acrescentou que o País enfrenta uma “recessão menos grave” por causa das ações substanciais de ordem fiscal e monetária que foram adotadas pelas autoridades do governo. “Medidas de auxílio no Brasil precisam ter foco definido e não devem ser retiradas de modo prematuro”, as previsões macroeconômicas do Fundo para o Brasil indicam que o ritmo de recuperação do País após a crise provocada pela pandemia de covid-19 ainda estará moderado no fim deste ano, com queda de 4,7% no PIB do quarto trimestre na comparação com o mesmo período de 2019. No encerramento de 2021, a velocidade do nível de atividade estará maior segundo o Fundo, com avanço de 1,7% no PIB entre outubro e dezembro ante os mesmos meses de 2020.

 

Indicadores

 

O documento faz poucos comentários sobre o cenário econômico do Brasil e concentra-se em alguns indicadores. O Fundo apontou que pesquisas feitas com dirigentes de empresas no País destacaram incremento da produção em julho e agosto, mas não aponta os motivos que levaram a tais resultados. Para o IPCA, o índice oficial de preços, a instituição projeta alta de 2% para 2020 ano e de 2,9% no encerramento de 2021.

 

O FMI ressalta que as suas suposições sobre a gestão da política monetária pelo Banco Central são “consistentes com gradual convergência da inflação ao centro da meta”.

 

Em relação às transações correntes, o Fundo estima que o Brasil terá um leve superávit de 0,3% do PIB neste ano e o indicador ficará estável em 2021 com

 

o processo de recuperação da economia. Para 2025, o FMI projeta que o país registrará um saldo negativo das contas correntes de 0,7% do produto interno bruto. O Fundo ressaltou que em suas projeções fiscais para o médio prazo relacionadas ao Brasil está sendo considerado o cumprimento do teto de gastos federais.

 

No documento, o Fundo destaca que os países mais ricos devem apresentar uma retração do PIB de 5,8% neste ano, número inferior à queda de 8,1% projetada anteriormente. Em 2021, a previsão de alta foi de 4,8% para 3,9%.

 

Para os mercados emergentes, ocorreu uma pequena piora da previsão do PIB de -3,1% para -3,3% em 2020, pois esses países enfrentam maiores dificuldades para financiar o aumento de despesas públicas, inclusive na área de saúde pública. Contudo, o Fundo melhorou um pouco a estimativa de expansão desse conjunto de nações em 2021, de 5,8% para 6,0%.

 

Cenários de recuperação

 

O Fundo Monetário Internacional traçou dois cenários para a evolução da economia mundial nos próximos anos com as perspectivas de combate à pandemia do coronavírus. No cenário mais pessimista, marcado por maior dificuldade do que o esperado para enfrentar a covid-19 em termos globais, o PIB mundial seria quase 0,75 ponto porcentual menor do que a previsão de queda de 4,4% para 2020, enquanto para 2021 a projeção atual de alta de 5,2% cairia quase 3 pontos porcentuais.

 

No cenário mais otimista do Fundo são consideradas melhoras sensíveis no combate internacional ao coronavírus. Com o bom desempenho de tratamentos para a covid-19, o número de mortes será reduzido de forma expressiva, o que reduzirá o temor das pessoas com a enfermidade e ajudará a acelerar o processo de retomada de confiança de cidadãos e de empresas.

 

Nesse contexto, o crescimento mundial no próximo ano seria maior em quase 0,5 ponto porcentual do que o previsto e chegaria a ser mais elevado em 1 ponto em 2023, embora o Fundo não tenha divulgado sua previsão para aquele ano. A instituição multilateral aponta que a expansão global ficará mais moderada em 2024 e em 2025 a alta do PIB mundial será “um pouco menor” do que o crescimento de 3,5% estimado atualmente. (O Estado de S. Paulo/Ricardo Leopoldo)