Fretamento e escolares contribuem para produção de ônibus, mas não há previsão para recuperação do setor

Diário do Transporte

 

O segmento de transporte foi diretamente afetado pela pandemia de Covid-19. Por consequência, a produção de ônibus foi comprometida. Em entrevista ao Diário do Transporte, o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes, afirmou que não há previsão de retomada para o setor.

 

“Não há previsão de recuperação para 2020, tanto para urbanos quanto para rodoviários, porque as pessoas estão se locomovendo menos. Assim, as empresas não estão renovando as frotas como fariam normalmente”, afirmou.

 

Segundo Moraes, o ano será difícil e os próximos meses terão números ruins. Em outubro, a Anfavea vai divulgar uma previsão mais exata. Contudo, a perspectiva de melhora está relacionada à questão de saúde, no momento.

 

“Quanto mais houver controle da pandemia, mais rápido as pessoas vão viajar. Mas ainda não tem a questão da saúde resolvida. Muita gente foi impactada. Agora é esperar que a economia não sofra tanto quanto está sofrendo esse ano, com a crise trazida pela pandemia”

 

Conforme noticiado pelo Diário do Transporte, nos oito primeiros meses deste ano, foram produzidos 12.289 ônibus nas fabricantes brasileiras. Por sua vez, no mesmo período de 2019 foram 19.370 unidades, queda acumulada de 36,6% de janeiro a agosto de 2020.

 

A queda foi mais expressiva em ônibus rodoviários, com redução de 41,8% na produção, passando de 3.928 para 2.286 unidades. Em urbanos, a baixa foi de 35,2%, de 15.442 para 10.003 chassis vendidos.

 

Fretamento e Caminho da Escola

 

De acordo com Moraes, o segmento de fretamento foi o único que teve um ligeiro crescimento. Contudo, não é suficiente para compensar as perdas na produção de ônibus urbanos e rodoviários. Por sua vez, o Caminho da Escola, programa do Ministério da Educação, foi citado como outro fator que contribuiu para que novas unidades fossem fabricadas.

 

“Aproximadamente 6 mil unidades foram licitadas em 2019 e as entregas estão sendo feitas esse ano, ao menos parte delas. A gente imagina que aproximadamente 50%, ou seja, 3 mil unidades já foram entregues ou estão em fase final. O faturamento ocorreu esse ano e a produção também. As outras 3 mil vão depender das prefeituras, mas provavelmente serão entregues em 2021, por conta do período eleitoral”, avaliou o presidente da Anfavea.

 

Também em entrevista ao Diário do Transporte, o diretor de Vendas e Marketing Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, Walter Barbosa, afirmou que todos os segmentos tiveram queda de 30 a 40%, enquanto o fretamento cresceu 1%.

 

“Isso se deve a uma relação de empresa privada para empresa privada. É uma indústria contratando uma empresa de transporte para diminuir o número de passageiros por veículo. Um ônibus de fretamento transporta em torno de 48 passageiros e no pico da pandemia muitas empresas acabaram contratando mais ônibus para diminuir esse número para 24 pessoas, para aumentar o espaçamento entre eles. Por isso o segmento foi mais promissor”, detalhou.

 

De acordo com Barbosa, o agronegócio e a mineração também estão movimentando a economia neste período. Exemplo disso foi a compra da Serra Verde Transportes de 13 micro-ônibus, noticiada pelo Diário do Transporte,

 

Ações para retomada

 

As renovações de frota, em geral, foram praticamente 80% postergadas, segundo Barbosa. Com a pandemia, o segmento de ônibus urbanos apresentou uma queda de 75% e o de rodoviários, 90%.

 

Por esse motivo, a Mercedes-Benz lançou uma campanha para empresas de ônibus divulgarem ações de combate à Covid-19. O objetivo é incentivar o uso do transporte coletivo, após a queda no número de passageiros em todo o país durante a pandemia.

 

Transporte coletivo

 

A Anfavea, por sua vez, defende que o transporte coletivo é o principal mecanismo de mobilidade nas grandes cidades. Assim, investir na mobilidade é uma demanda do cidadão que cabe ao poder público e, por consequência, pode auxiliar as empresas de ônibus.

 

“O número de passageiros reduziu em relação ao volume tradicionalmente transportado e o sistema tem muita dificuldade porque não consegue cobrir o custo, as empresas estão sendo remunerados pela tarifa que não vai conseguir cobrir o custo porque são menos passageiros e a conta não fecha”, avaliou o presidente da Anfavea.

 

“A ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) propõe mudar o sistema de remuneração porque esse sistema está falido. Um sistema impactado por um evento como esse torna muito difícil a sobrevivência dos operadores em continuar rodando. A relação não depende das montadoras, é uma relação entre poder público e empresa operadora de transporte, mas afeta diretamente montadoras e encarroçadoras, por ter um movimento muito baixo em um momento como esse”, disse também Moraes.

 

Auxílio

 

O presidente da Anfavea afirma também que não há auxílio do governo previsto para as montadoras. A “esperança” do setor agora está no projeto que prevê $ 4 bilhões para o setor de transportes, sendo R$ 2,8 bilhões para os municípios com mais de 200 mil habitantes.

 

Relembre e confira os detalhes do projeto: Projeto de R$ 4 bilhões de auxílio ao transporte coletivo sai de pauta na Câmara dos Deputados e deve ser votado somente na próxima semana

 

Leia também: FNP divulga estimativa por município de recebimento de auxílio do governo para transporte

 

O Senado Federal confirmou em 27 de agosto de 2020, a análise do projeto de lei. O projeto estava emperrado na Câmara desde julho. (Diário do Transporte/Jessica Marques)