O Estado de S. Paulo
A pandemia do coronavírus derrubou economias do mundo inteiro e impactou fortemente até as maiores empresas globais. Foi o caso da brasileira Iochpe-maxion, líder mundial em produção de rodas e componentes estruturais automotivos. A companhia, que tem 32 fábricas em 14 países, viu sua receita diminuir 56% no segundo trimestre de 2020. Como resultado do choque no segmento, as ações da empresa estão caindo 41,6% no ano.
“Como tínhamos pouca visibilidade, não sabíamos da profundidade e duração da crise. Um movimento forte que fizemos foi o de reforçar a posição de caixa”, explica Elcio Ito, diretor financeiro global da Iochpe-maxion.
De fato, a multinacional chegou ao final do segundo trimestre com R$ 1,4 bilhão em caixa, valor três vezes maior que o observado em igual período, do ano passado. Na visão de Ito, o setor automotivo brasileiro deve demorar mais para se recuperar do que nos demais países da Europa e América do Norte. “O País tem mostrado uma recuperação maior nos últimos dois meses, mas ainda muito abaixo dos volumes que a gente viu no ano passado”, diz o executivo.
- Como está a recuperação do setor automotivo?
Uma consultoria muito reconhecida no mundo automotivo, chamada IHS, apontou que o mês de junho já mostrou uma recuperação importante. No segundo trimestre, o Brasil caiu em torno de 80%, a América do Norte, aproximadamente 71% e a Europa, 66%, na comparação com o ano anterior. Quando olhamos para o terceiro trimestre, vemos uma queda bem menor: no Brasil de 25% e, na América do Norte e na Europa, abaixo de 10%. A recuperação continua de forma consistente e gradual. O pior, que foi lá em abril, não estamos prevendo que aconteça novamente, pelo menos no horizonte próximo.
- O que esperar do mercado brasileiro?
O Brasil entrou no ciclo do vírus um pouco mais tarde que os outros países. Isto é, o País tem mostrado uma recuperação maior nos últimos dois meses, mas ainda muito abaixo dos volumes que vimos no ano passado. E, mesmo com essa recuperação que tem se mostrado positiva e gradual, ainda assim vamos ter uma queda muito relevante em relação a 2019, ao redor de 30%.
- Como o sr. avalia a redução do uso do carro em razão da pandemia da covid?
É um novo comportamento? Os novos comportamentos advindos da pandemia ainda estão na esfera das possibilidades. Muitos países ainda nem saíram da pandemia, como é o caso do Brasil. Mas o que percebemos foi que, em mercados que já estão um pouco na frente desse processo de recuperação, especificamente na China e na Índia, tem ocorrido uma demanda um pouco maior de veículos de entrada, que são um pouco mais básicos. Isso vem na tendência de as pessoas buscarem ter um veículo próprio, em vez de utilizar o transporte público. Mas isso está no início, não sabemos se será permanente ou temporário.
- E a avaliação da chegada dos carros elétricos?
Os carros elétricos já eram no pré-pandemia e continuam sendo uma tendência. Em alguns mercados, acabam até colocando incentivos adicionais em relação aos veículos elétricos para fomentar a demanda. Do nosso lado, já fornecemos rodas e componentes estruturais que estão presentes nos veículos elétricos.
Hoje, o maior risco para o setor continua sendo o coronavírus?
Ainda tem uma incerteza grande sobre o próprio processo do vírus, então não dá para descartar totalmente que esse processo está finalizado. Mas, de forma geral, a indústria automotiva global tem seus altos e baixos, e vem em uma tendência mais estável, esses solavancos grandes que tivemos agora são mais difíceis de acontecer. Passado esse momento, ajustando nosso balanço, a ideia é continuar expandindo nosso crescimento de forma bastante forte. (O Estado de S. Paulo/Jenne Andrade)