Locadoras na expectativa da retomada

O Estado de S. Paulo

 

O setor de locação de veículos tem passado por uma verdadeira revolução. Até recentemente baseadas nos contratos por curtos períodos, as locadoras foram ampliando cada vez mais a participação dos contratos longos, aqueles em que o cliente tem o veículo à disposição pelo mês inteiro.

 

É uma modalidade que se encaixou nas necessidades de uma legião de trabalhadores que cresce cada vez mais no Brasil: os motoristas de aplicativos. A ideia de alugar um carro e pagar com o próprio resultado do trabalho é perfeita para quem não tem um veículo próprio nem reserva de capital para comprar um.

 

Quando se coloca tudo na ponta do lápis, no entanto, mesmo quem tem carro pode chegar à conclusão equivale apena recorrer à locação – tanto do ponto de vista financeiro quanto da tranquilidade que isso proporciona. O serviço de “assinatura” mensal costuma incluir os custos de revisão, seguro e impostos.

 

Não é por acaso que as locadoras emplacaram, no ano passado, um número recorde de automóveis e comerciais leves ,541,3 mil. Isso representa 22% do total de emplacamentos realizados no País, o dobro da participação registrada três anos antes. As locadoras se tornaram as maiores clientes das montadoras, a parceria tem sido reconhecida por condições especiais para a compra de carros zero quilômetro.

 

Também o número de diárias vendidas, 49,6 milhões, alcançou um patamar inédito no ano passado, 9% acima do ano anterior. Os motoristas de aplicativo foram os responsáveis diretos por esse número. Estima-se que eles tenham alugado 200 mil carros no ano passado, crescimento de 30% em relação ao ano anterior.

 

Tudo isso vem refletindo positivamente no faturamento das locadoras, que cresceu 58% nos últimos três anos e chegou a R$ 21,8 bilhões. O setor fechou o ano passado empregando 75 mil pessoas no País e com uma frota que se aproximava da casa de um milhão de veículos.

 

Horizonte promissor

 

A pandemia prejudicou o mercado de locação, claro – assim como todos os demais mercados. Boa parte dos clientes decidiu devolver seus carros locados por conta da queda do movimento de passageiros de aplicativos, especialmente no segundo trimestre do ano. De julho em diante, o mercado começou ase reaquecer com mais intensidade. A expectativa é de que a situação volte ao normal antes de muitos outros segmentos.

 

Enquanto os motoristas de aplicativos retornam aos poucos, a expectativa do setor é de que as férias deverão impulsionem os negócios, uma vez que as viagens de carro – especialmente as de pequena e média distâncias – são consideradas mais seguras para evitara contaminação pela covid-19. “O turismo doméstico deve ser um fator importante para alavancar os tornos próximos meses”, diz Paulo Miguel Júnior, presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla).

 

Outro nicho promissor é o da terceirização. A Abla já identificou que, como efeito da pandemia, muitas empresasse viram pressionadas a obter liquidez e estão se desfazendo de ativos sem relação direta coma atividade-fim, como é o caso da frota própria. O potencial desse mercado é gigantesco. Estima-se que 70% das empresas brasileiras ainda tenham seus veículos.

 

A competição entre as locadoras pelos clientes tem incluído aspectos que até então eram pouco relevantes no aluguel de veículos, a exemplo da qualidade dos sistemas de som. Hoje, dispor de apenas um rádio é decepcionante para a maioria dos usuários.

 

A fabricante de som automotivo Hurricane desenvolveu um kit especial para locadoras associadas à Abla, com recursos de áudio e conectividade bem mais sofisticados do que o padrão normalmente visto nos carros alugados. Inclui USB frontal, MP5 player, tela touch screen, bluetooth, entrada para câmera de ré e frontal, além de dois alto-falantes, antena e, claro, o tradicional rádio. (O Estado de S. Paulo)