Ônibus elétrico começa a circular na Unicamp

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A Unicamp lança mais uma inovação que amplia as ações de sustentabilidade no dia a dia da Universidade. Entrou em operação o primeiro ônibus elétrico que passa a compor a frota dos circulares internos da Diretoria de Serviços de Transporte (Unitransp). Financiado pela CPFL Energia e produzido pela empresa BYD de Campinas, o veículo será alimentado com energia elétrica fotovoltaica produzida no próprio campus. Ele conta com carroceria de piso baixo, três portas e sistema completo de acessibilidade, com espaço reservado para passageiros cadeirantes. A expectativa é de que, ainda no segundo semestre de 2020, o ônibus possa atender a comunidade operando em até três turnos.

 

O lançamento do ônibus elétrico ocorre como parte da execução do projeto Laboratório Vivo de Mobilidade Elétrica, que é uma das iniciativas do Projeto Campus Sustentável. Ele é gerenciado e recebe suportes necessários por meio do Escritório de Projetos Especiais, vinculado à Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), coordenado pelo professor Luiz Carlos Pereira da Silva. O Campus Sustentável teve início em agosto de 2017 a partir de uma parceria entre a Unicamp e a CPFL Energia, dentro de uma chamada por projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) lançado a universidades do país pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), e tem a meta de promover a economia de energia na Universidade e realizar ações integradas de pesquisa e inovação em sustentabilidade. “Nossa ideia era plantar uma semente visando à sustentabilidade no campus. O projeto começa com essa oportunidade, via ANEEL e CPFL, mais voltado à energia elétrica, mas nossa ideia é juntar diversas iniciativas em outros setores, como a gestão de águas e de resíduos”, explica Madson Cortes, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) e coordenador do Laboratório Vivo de Mobilidade Elétrica.

 

O Projeto Campus Sustentável conta com outras frentes, como a substituição de equipamentos antigos por novos, que consomem menos energia elétrica, a gestão do consumo energético dos edifícios incorporando recursos de internet das coisas (IoT) e a instalação de unidades produtoras de energia fotovoltaica em pontos do campus, como o telhado do Ginásio Multidisciplinar da Unicamp (GMU). Atualmente, as unidades fotovoltaicas instaladas no campus têm a capacidade de 534 kWp (Quilowatts-pico). De acordo com Madson, o valor permite a operação do ônibus sem a necessidade de recorrer a outras fontes de energia elétrica. “A bateria do nosso ônibus elétrico tem capacidade de 324 kWh. Com a energia fotovoltaica gerada no campus, seria possível abastecer uma frota de circulares internos composta exclusivamente por ônibus elétricos com uma recarga completa todos os dias úteis do ano. Com isso, seria possível eliminar completamente o consumo de combustíveis fósseis nos circulares internos do campus”, avalia.

 

Laboratório vivo sobre mobilidade sustentável

 

Assim como outras iniciativas que integram o Campus Sustentável, o Laboratório Vivo de Mobilidade Elétrica vai além da simples substituição dos veículos com motores à combustão. Equipado com uma ampla gama de sensores que registram diferentes dados durante a rodagem, a proposta é que o ônibus elétrico e os ônibus convencionais da frota interna do campus funcionem como um laboratório vivo. O conceito já é aplicado em empresas e universidades do mundo e se caracteriza pela possibilidade de coletar dados que subsidiem pesquisas diversas a partir dos usos de espaços e recursos do cotidiano. O que se pretende é criar um ambiente para a coleta de dados técnicos, econômicos e ambientais que alimentem pesquisas em diversas áreas de conhecimento.

 

“Você tira a experimentação do ambiente controlado dos laboratórios e traz para o ambiente real onde, de fato, as coisas estão acontecendo, com todas as dificuldades inerentes. Nossa visão principal é que, com o tempo, essa base de dados de diversas naturezas possa subsidiar pesquisa em diversas áreas de conhecimento. Essa é então apenas a primeira parte desse grande projeto, criar o laboratório vivo.”, define o coordenador.

 

Dados como fluxo de passageiros, velocidade e temperatura ambiente, consumo de energia, entre outros, auxiliarão no desenvolvimento de pesquisas que olham para as diversas faces da mobilidade urbana, tanto diretas quanto indiretas. “Nesse monitoramento é possível acompanhar posição e velocidade, que já são clássicos, mas também incluir ruído, temperatura, acelerômetro, e extrair indicadores. Por exemplo, se eu vejo que ao passar por uma rua, há variações nos dados observados pelo acelerômetro, é possível usar isso na gestão pública e identificar ali a necessidade de um recapeamento”, esclarece Eduardo Lacusta Junior, analista de inovação da CPFL.

 

Além dos dados que podem ser obtidos a partir do uso e da operação do ônibus elétrico no campus, os pesquisadores envolvidos no projeto Laboratório Vivo de Mobilidade Elétrica pretendem olhar também para a cadeia produtiva envolvida em todos os aspectos da produção e uso desse tipo de transporte, como o potencial de geração de empregos e renda que ele envolve, o quanto seu uso favorece deslocamentos que impactam outros setores, entre outros dados. Segundo Carla Nakao Cavaliero, docente da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e responsável pelos estudos de impactos ambientais, a ideia é que os dados permitam traçar projeções de como seria a adoção de uma frota de ônibus elétricos em uma grande cidade como São Paulo.

 

“Isso só enaltece a importância dos dados que o laboratório vivo vai gerar para que a gente possa pensar em um contexto mais amplo. Por exemplo, dentro da cadeia produtiva do ônibus e dos diferentes setores econômicos envolvidos, quais os impactos que uma frota dessa pode causar? Em um primeiro momento já pensamos na diminuição da demanda de motores à combustão, na redução do uso de alguns tipos de baterias. Esse deslocamento causa um efeito na economia como um todo”, detalha Cavaliero.

 

Início com testes e coleta de dados

 

A operação do ônibus elétrico no sistema de transporte circular interno do campus terá início de forma escalonada. Depois da instalação dos sensores, testes básicos e treinamento dos motoristas, o veículo deve rodar por cerca de uma semana sem atender ainda os passageiros para adequar questões como necessidade de recargas e testes com os sensores. No primeiro mês de circulação, o ônibus deverá atender passageiros apenas durante o dia e, após esse período, as rotas noturnas passarão a ser atendidas. Ao longo dos seis primeiros meses, dados serão coletados tanto para fomentar as pesquisas em mobilidade, quanto para adequar a operação do ônibus às características e necessidades do campus.

 

“Dependendo da demanda, do uso de ar condicionado, do relevo nas rotas e do número de paradas, o desempenho do ônibus varia. Nossa ideia então é que, em setembro, vamos começar a atender o público, mas de forma ainda controlada. Quando, a partir dos estudos dos dados monitorados, conhecermos as limitações do ônibus e as possibilidades de gestão das recargas, vamos ampliando gradativamente”, avalia Madson Cortes.

 

Para Teresa Atvars, coordenadora geral da Universidade, o projeto é um passo importante para uma mudança de cultura que torna a Unicamp um ambiente mais sustentável. “Estamos todos empenhados em termos um campus atendendo cada vez mais os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs), e neste sentido este é mais um passo. O que estamos fazendo, entretanto, vai além, que é dar estes passos em um ambiente de formação profissional de futuros formadores de opinião e que levarão o que estão aprendendo na Unicamp para suas vidas profissionais e pessoais. Isto significa que estamos formando cidadãos comprometidos com os ODSs e que são, portanto, agentes multiplicadores de uma nova visão de mundo. Ao implantarmos estas tecnologias transformado-as em laboratórios vivos, estamos formando melhor nossos alunos, tornando o campus mais sustentável e criando uma cultura duradoura de sustentabilidade que extrapola nossos muros”, avalia a professora. (Portal UinCampus)